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Principiante? Como Começar A Investir na Bolsa de Valores

O leitor está a iniciar-se na bolsa de valores. É a primeira vez que tenta realizar um investimento em bolsa e não sabe como começar?

Pretende iniciar-se neste mundo sem arriscar demasiado o seu capital? Que aspectos deverá considerar para rendibilizar o seu capital em bolsa, evitando riscos desnecessários.

Ao longo do presente artigo, irei dar a conhecer ao leitor um conjunto de aspectos que deverá ter em conta antes de aventurar-se na bolsa de valores.

Efectivamente, se deseja iniciar-se nos mercados financeiros, o leitor está no caminho certo: actualmente, é praticamente a única forma de rendibilizar poupanças, dado o actual contexto de repressão financeira.

Os bancos remuneram os depósitos a prazo com taxas de juro de 0%, ou mesmo negativas – realidade existente já em alguns países.

Diversificação do investimento

Quando se está a negociar em bolsa, uma regra é essencial: não colocar todos os ovos no mesmo cesto.

Se investisse 100 USD, no final de 2009, em acções da empresa Amazon, hoje (18 de Agosto de 2020) o seu investimento estaria a valer 2419 USD. Teria multiplicado o seu capital 24 vezes.

Pelo lado negativo, um investimento de 100 EUR, no final de 2009, em acções do Banco Comercial Português (BCP), hoje valeria apenas 2,7 Euros, resultando numa perda de 97%.

Por estes dois exemplos, podemos constatar que a diversificação é uma estratégia importante, visando evitar que um determinado investimento, que apresente perdas substanciais, não afecte a totalidade da sua carteira de investimentos em bolsa.

Hoje, uma estratégia de diversificação pode ser realizada de diversas formas.

Vamos analisar três possíveis estratégias:

  • Geografia
  • Classe de Activos
  • Sectores de Actividade

Vamos então indagar a estratégia que consiste em afectar fracções do capital por diferentes geografias.

Na Figura 1, podemos observar a rendibilidade em Euros entre o final de 2009 e 2019 de distintos índices bolsistas.

Seguidamente, listamos os índices bolsistas que se encontram na Figura 1: O S&P 500 (EUA), o DAX 30 (Alemanha), AEX 25 (Holanda), CAC 40 (França), o FTSE 100 (Reino Unido), o MIB 40 (Itália), o IBEX 35 (Espanha) e o PSI 20 (Portugal).

Figura 1

Como podemos constatar, entre o final de 2009 e Agosto de 2020, cada uma das geografias apresentou um desempenho completamente distinto.

O investimento de 100 Euros no principal índice norte-americano, o S&P 500, também conhecido por sp500, estaria a valer 400 Euros em Agosto de 2020; pelo lado negativo, o mesmo investimento no índice PSI 20, o principal índice bolsista português, valeria apenas 64 Euros; ou seja, determinadas geografias apresentaram desempenhos excepcionais, enquanto outras, significaram perdas avultadas para os investidores nos últimos 10 anos, caso utilizássemos apenas posições longas (adiante explicado o significado).

A diversificação nos mercados financeiros também pode ser realizada através do investimento em diferentes classes de activos.

De que se trata?

São activos financeiros que apresentam características, direitos de propriedade e emissores distintos.

As principais classes de activos são as seguintes:

  • (i) Acções de Empresas;
  • (ii) Obrigações;
  • (iii) Matérias-Primas;
  • (iv) Divisas.

No caso das Acções de Empresas, trata-se do activo mais conhecido pela generalidade do público.

Pode tratar-se de uma acção, por exemplo, da empresa Galp ou da empresa Apple; é um título de propriedade que representa uma fracção do capital de uma empresa a cotar numa determinada bolsa de valores.

O proprietário destes títulos, denominado accionista, tem direito a receber uma parte dos lucros da empresa, caso assim seja decidido pelos accionistas, denominado dividendo.

E relação às Obrigações, uma classe igualmente conhecida do público, é um título de dívida que confere ao seu proprietário o direito a receber juros, designado por cupão, e o valor facial do título de propriedade.

As Obrigações podem ser emitidas por empresas, municípios, estados ou federações de estados (dívida dos Estados Unidos; mais recentemente, a União Europeia).

As Matérias-Primas englobam um leque alargado de activos.

Podemos separá-las nas seguintes categorias:

  • (i) agrícolas (café, soja…);
  • (ii) energia (Petróleo, Gasolina…),
  • (iii) Metais Industriais (aço, alumínio…),
  • (iv) Metais Preciosos (Ouro – XAU, Prata- XAG, Platina…).

As Divisas são uma classe de activos que resulta da emissão por parte de banco centrais e bancos comerciais. Até ao final de Bretton Woods, em Agosto de 1971, as divisas, directa ou indirectamente, eram convertíveis em Ouro.

Na prática, o seu nome era uma unidade de peso de metais preciosos, como o dólar e a libra esterlina.

A partir dessa data, todos as divisas passaram a ser fiat; ou seja, são uma divisa por decreto governamental, deixando de serem convertíveis em metais preciosos.

Define-se o mercado onde são negociadas por Forex.

Estes activos são negociados em pares, com cada par a ser representado por três letras. Vamos, por exemplo, analisar o par cambial EURUSD – o par cambial mais negociado no mundo.

No caso do USD, as duas primeiras letras correspondem ao país (US- United States) e a terceira ao nome da divisa, neste caso o dólar.

O EUR corresponde ao Euro, sendo uma excepção a esta regra, dado tratar-se de uma zona monetária que agrega vários países europeus. Para melhor conhecer esta nomenclatura, ler o artigo a respeito.

Seguidamente, temos os activos financeiros que resultam da agregação de vários activos financeiros anteriormente mencionados: (i) os índices bolsistas e os (ii) fundos de investimento.

Os primeiros, visam medir o desempenho das principais acções cotadas nas bolsas de valores de um determinado país – também existem índices que medem o desempenho de um conjunto de matérias-primas, por exemplo, o Rogers International Commodity Index, ou de outras classes de activos – as possibilidades são infinitas.

Os segundos são uma forma de investimento passivo. Em lugar do leitor estar a implementar uma estratégia de diversificação, decidindo x% ao activo A, y% ao activo B, existe um gestor profissional que toma essas decisões no seu lugar, seguindo uma determinada estratégia de investimento – replicar o índice sp500, por exemplo.

Existem fundos que estão cotados em bolsa, como os ETFs, que facilitam a sua aquisição e liquidação por parte dos investidores.

Na Figura 2, podemos consultar a evolução de distintas classes de activos no período compreendido entre o final de 2019 e 12 de Agosto de 2020; os desempenhos são díspares e, em alguns casos, de sentido contrário.

Figura 2

No caso dos metais preciosos, 40% e 25% para a Prata e o Ouro, respectivamente. No sentido oposto, tivemos o Petróleo, uma Matéria-Prima essencial à economia mundial.

No caso do EURUSD, um par cambial, registou uma subida de 5%, ou seja, o dólar depreciou-se frente ao EUR.

Mais uma vez, podemos concluir que podemos diversificar também por classes de activos, atendendo às diferenças de desempenho, em alguns casos de sentido contrário, algo crítico para uma estratégia de diversificação.

Por fim, nos mercados financeiros também podemos realizar uma diversificação por sector de actividade.

Por exemplo, regra geral, durante as crises financeiras, as empresas fornecedoras de serviços de utilidade pública (gás, electricidade, água, Internet…) tendem a apresentar um melhor desempenho relativo que os demais sectores.

No caso de expansão económica, o sector tecnológico apresenta o melhor desempenho relativo face aos demais. É importante que o investidor tenha em conta o ciclo económico em que a economia se encontra, antes de decidir que sectores de actividade selecciona para a sua carteira.

Como podemos constatar na Figura 3, entre o final de 2019 e 11 de Agosto de 2020, as empresas constituintes do índice S&P 500 (sp500) do sector Saúde, utilizando uma média simples, registaram uma valorização média no preço das suas acções de 11%; em sentido contrário, esteve o sector energético, muito influenciado pela enorme descida do preço do Petróleo, com uma queda -37%.

Figura 3

Na Figura 3, podemos concluir que a análise do desempenho associado a cada sector de actividade é crítico para uma estratégia de diversificação.

Análise Fundamental vs Análise Técnica

Depois do investidor decidir a geografia, a classe de activos e o sector de actividade que, no seu entender, apresenta o maior potencial de valorização ou desvalorização – também podemos beneficiar com as quedas– , importa agora explicar a necessidade de decidir os activos financeiros que irão fazer parte da carteira de investimento, de acordo com a estratégia de diversificação previamente definida.

Para analisar um determinado activo financeiro, duas análises podem ser adoptadas:

  • (i) a Fundamental
  • (ii) Técnica.

A Análise Fundamental como funciona?

Trata-se de uma análise apenas acessível a profissionais ou de alguém com conhecimentos profundos de contabilidade, análise financeira e de mercados – onde a empresa se insere; produção, procura e oferta de uma determinada matéria-prima, por exemplo.

Esta metodologia obriga a conhecer em profundidade o balanço da empresa (endividamento, solvência, liquidez dos activos, rotação dos activos…), a demonstração de resultados (margens do negócio, crescimento de receitas e custos…) e o fluxo de caixa (consumo ou libertação de tesouraria em actividades operacionais ou de investimento).

Obriga também à estimação dos resultados futuros da empresa, com o propósito de calcular indicadores; estes permitem verificar se uma empresa se encontra sub ou sobre valorizada.

A maioria desses indicadores resulta do cálculo de múltiplos.

Um dos múltiplos mais utilizados pelos profissionais de bolsa é o PERPrice Earnings Ratio. Trata-se da divisão do valor da capitalização bolsista pelos resultados líquidos de uma dada empresa.

Tradicionalmente, quando existiam taxas de juro positivas, sem a actual repressão financeira dos bancos centrais, os PERs situavam-se entre 10 e 20, em que o primeiro valor ocorria durante as depressões e o segundo durante expansões económicas.

Se uma empresa tinha um PER baixo face a empresas similares, podíamos afirmar que estava subvalorizada, podendo, como conclusão, existir um potencial de valorização.

Esta foi uma das regras aplicadas ao longo da história, no entanto, tudo se tem alterado recentemente.

Agora tudo é diferente.

Podemos ter uma empresa como a Amazon que apresenta um PER de 126 (20 de Agosto de 2020, Fonte: Reuters), levando-nos a concluir que deveria ser altura de vender, dada a aparente sobrevalorização.

No entanto, numa realidade de taxas de juro 0%, e tal como podemos observar na Figura 4, a Amazon não pára de subir em bolsa: aqui entra a Análise Técnica.

Figura 4

A Análise Técnica visa identificar tendências ascendentes e descendentes; assim que a mesma seja detectada, o investidor tentar apanhar o “comboio”, visando participar da viagem numa dada direcção – subida ou descida.

Na teoria parece fácil; na realidade, obriga a uma preparação muito exigente por parte do investidor, ao contrário do que à partida se possa imaginar.

Se repararmos na Figura 4, a Amazon apresenta uma tendência ascendente ininterrupta desde 2009, que acelerou no presente ano, quando superou uma resistência em torno dos 2 mil USD por acção.

O que é uma resistência?

É um preço que traz uma enorme pressão vendedora quando a acção é negociada a estes níveis; o contrário de um suporte: enorme pressão compradora.

Com a identificação de suportes e resistências, o investidor pode determinar objectivos de saída e entrada, bem como obter a confirmação de que uma determinada tendência irá continuar ou inverter.

No caso da Amazon, ao romper os 2 mil USD por acção, uma resistência, foi a confirmação de que a tendência ascendente iria continuar.

Além deste aspecto, a Análise Técnica visa identificar padrões gráficos que se repetem, indicando, com elevada probabilidade, que uma determinada tendência irá continuar ou inverter, no momento que o preço as rompe.

No momento em que o preço rompe uma Bandeira ou uma Cunha, de acordo com a tendência dominante, estes padrões indicam que a mesma irá com elevada probabilidade continuar. Existem múltiplas formações de continuação de tendência que importa conhecer.

No caso de um Duplo-Topo ou de um Ombro-Cabeça-Ombro, estamos na presença de um padrão de reversão de tendência. Existem múltiplas formações, tanto de continuação como de inversão, que importa conhecer com profundidade no momento em que alguém deseja iniciar-se na bolsa de valores.

As formações obtidas a partir da utilização de Velas Japonesas detectam igualmente a continuação ou inversão de uma dada tendência.

Outro aspecto que importa dominar, no âmbito da Análise Técnica, são os níveis de Fibonacci; estes servem para medir correcções de uma determinada tendência, em particular os níveis 38,2%, 50,0% e os 61,8%.

Trata-se de níveis importantes que podem determinar a saída ou não de uma determinada posição. Caso o nível seja rompido, a posição deverá ser abandonada, com o propósito de limitar perdas (ordem Stop).

Esta metodologia também serve para determinar níveis de expansão de uma determinada tendência, nomeadamente os níveis 161,8%, 261,8% e 423,6%.

Por fim, e talvez o aspecto mais relevante da Análise Técnica, consiste no exame de divergências.

De que se trata?

Verificar se outros indicadores confirmam ou não a evolução gráfica do preço, confirmando, desta forma, a consistência de uma dada tendência. Estas comparações podem ser realizadas com o volume, o indicador MACD ou com o indicador RSI; ou muitos outros.

Negociar – abrir e fechar posições no mercado

Em primeiro lugar, o leitor deve ter claro as geografias, os sectores e as classes de activos onde deseja posicionar-se, ou seja, os parâmetros da sua estratégia.

Seguidamente, analisa os activos financeiros que cumprem os parâmetros da sua estratégia de diversificação; agora deve tomar uma série de decisões relacionadas com a negociação em bolsa propriamente dita:

  • Deve posicionar-se longo ou curto em determinado activo. Como vimos anteriormente, o PSI 20 encontra-se numa tendência descendente que pode ser explorada através de posições curtas; sem entrar em explicações detalhadas, um curto permite obter ganhos com a queda do preço;
  • De que forma irá cobrir o seu risco cambial, caso decida investir em activos financeiros denominados em divisas distintas da divisa base da sua conta de corretagem. A título de exemplo, como proteger-se de um investimento em acções da Apple, denominadas em USD, se possui uma conta de corretagem denominada em Euros? Qual o risco desta posição, caso esteja longo em acções da Apple? Neste caso, uma desvalorização do USD frente ao EUR apresenta um risco sério para o seu investimento, mesmo num cenário de subida do preço das acções da Apple (conhecer o mercado Forex);
  • Devo ou não utilizar alavancagem financeira? A alavancagem financeira permite-me obter uma maior exposição com menos capital, facilitando, desta forma, uma estratégia de diversificação. Por outro lado, eleva consideravelmente os riscos, atendendo que amplifica os movimentos do preço dos activos financeiros. Para se investir com alavancagem financeira pode-se recorrer a uma conta-margem, em que a corretora concede crédito para a abertura de posições, ou a instrumentos derivados, como Futuros, Opções e CFDs. O grau de alavancagem que o investidor decide utilizar condiciona a estratégia de entrada e saída de uma dada posição;
  • A estratégia de entrada e saída no momento de abrir uma posição é de extrema importância. O investidor deve antecipadamente conhecer a que preço quer entrar e sair, em caso de perdas ou ganhos. Depois de a ter definido, deve conhecer o tipo de ordens que permitem a implementação da mesma com eficácia. Actualmente, as corretoras oferecem um leque alargado de tipo de ordens, que importa conhecer em detalhe;
  • Por fim, e talvez a mais importante, a gestão do capital afectado a cada posição. Muitos investidores acertam na tendência de um determinado activo, mas como não sabem gerir o capital e a alavancagem, são incapazes de tirar proveito do seu acerto, atendendo que a volatilidade do mercado força-os a fechar a posição.

Em conclusão, como o leitor pode constatar pela leitura deste artigo, investir na bolsa de valores não é assim tão fácil, obriga a uma formação intensiva; caso contrário, a probabilidade de sucesso é reduzida, diria mesmo impossível.

Apesar de tudo, nos dias que correm, é uma das melhores alternativas para a aplicação dos aforros.