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Investir na Bolsa em 2020 em plena crise Covid-19

O último relatório de emprego nos Estados Unidos para o mês de Abril veio apresentar-nos um cenário negro. A economia norte-americana perdeu 20,5 milhões de empregos em Abril do presente ano; trata-se do relatório com os piores resultados desde que se iniciou a sua publicação em 1939!

Em Março, também se destruíram empregos, embora com números bastante inferiores, neste caso, 870 mil empregos.

Em apenas dois meses, em resultado do confinamento da população, a economia norte-americana destruiu mais do dobro dos empregos perdidos na última crise – depois da falência do banco de investimento Lehman Brothers-, em que se eliminaram 8,7 milhões de empregos.

A surpresa de tudo isto, foi a resiliência que o índice S&P 500 tem demonstrado, em particular a sua completa dissonância com a evolução da economia. Tudo isto é uma cortesia do banco central norte-americano, a Reserva Federal, que continua a imprimir dinheiro até ao infinito para salvar Wall Street.

Depois de ter registado um máximo histórico a 19 de Fevereiro do presente ano, quando fechou nos 3.386 pontos, o índice registou uma das quedas mais rápidas da sua história, tendo perdido quase 34% em pouco mais de um mês.

A 23 de Março de 2020, registou o mínimo do ano, nos 2.237 pontos, tal como podemos observar na Figura 1.

Figura 1

Desde esse mínimo, o índice sp500 recuperou mais de 30%. Na sessão do dia 12 de Maio de 2020, encerrou nos 2.930 pontos.

Na minha opinião, esta subida é de enorme fragilidade, atendendo que se encontra concentrada num número reduzido de empresas, em particular as ligadas ao sector tecnológico.

Adicionalmente, o índice sp500 está a ter dificuldade em romper uma resistência importante, situada em torno dos 2950 pontos, um nível Fibonacci de extrema importância – 61,8%.

Se analisarmos a evolução das 505 empresas constituintes do índice sp500, podemos obter várias conclusões.

Em primeiro lugar, a variação percentual média das cotações por sector desde o início do presente ano. Como podemos observar na Figura 2, todos os sectores encontram-se no vermelho, no entanto, o sector da Saúde apresenta uma queda média de apenas 3%; ao inverso, o sector da energia encontra-se em fortes dificuldades, com uma queda média superior a 40%.

Tal desempenho está muito influenciado pelo mínimo histórico que o preço do Petróleo registou no presente ano, em que chegou a ser transaccionado a valores negativos.

Figura 2

Vamos agora analisar, para o mesmo período, o contributo de cada sector para a capitalização bolsista do índice sp500 (ver Figura 3). O sector tecnológico foi o único que contribuiu para a subida da capitalização bolsista, com uma subida de 2 mil milhões de USD.

Como era esperado, dada a possibilidade do sector financeiro enfrentar a insolvência de várias empresas e particulares nos próximos meses, tratou-se do sector que mais destruiu o valor da capitalização bolsista do índice sp500, um contributo negativo de -16,3 mil milhões de USD.

Figura 3

Importa agora analisar as empresas que apresentaram o melhor desempenho para este período. Como esperado, no grupo das 10 melhores, 5 pertencem ao sector tecnológico; inclusive, também poderíamos adicionar a este grupo a Netflix.

Figura 4

Esta empresa subiu 35% no presente ano, beneficiando dos confinamentos decretados pelos estados, em virtude da crise do Covid-19. A Netflix encontra-se numa tendência ascendente, com mínimos e máximos crescentes, rompendo recentemente o anterior máximo histórico, registado em Junho de 2018, em torno a 410 USD por acção.

Ao contrário do que a crise poderia supor, existem empresas que estão a beneficiar da actual conjuntura.

Figura 5

Vamos então analisar as 10 empresas com pior desempenho para este período. Como esperado, neste grupo aparecem duas companhias aéreas, a United Airlines e a Delta Airlines.

Trata-se do sector mais afectado por esta crise, dada a queda do tráfego aéreo, superior a 50%, e pressão dos reguladores, que obrigam ao reembolso de viagens já pagas, o que coloca uma forte pressão sobre a tesouraria destas empresas. Algumas não irão sobreviver mais de dois meses, excepto se aparecerem os contribuintes a dar, mais uma vez, a mão.

Figura 6

No caso da United Airlines, a empresa apresentava uma tendência ascendente, que foi interrompida em Março do presente ano. Presentemente, a tendência descendente será confirmada, caso a cotação perca o suporte em torno a 24 USD por acção, tal como podemos observar na Figura 7.

Figura 7

Em conclusão, a recuperação do índice sp500, iniciada no final de Março de 2020, parece frágil, dado que está concentrada em poucas empresas de um único sector, o tecnológico.

Por outro lado, existe uma importante resistência, em torno dos 2950 pontos, nível 61,8% de Fibonacci, que implica a máxima atenção dos investidores nas próximas sessões.

Caso o índice não rompa o dito nível Fibonacci, poderemos revisitar os mínimos de 23 de Março do presente ano.

Em caso de ruptura, será muito provável que voltemos a máximos históricos, apesar do desastre económico que vivemos.

 

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