Numa época em que a taxa de poupança dos portugueses atinge mínimos, cerca de 4% do rendimento disponível, é fundamental, mais do que nunca relembrar a sua importância.
Vivemos novamente um período áureo de consumo, proporcionado pela facilidade do crédito pessoal a taxas convidativas, quando as alternativas de poupança ditas seguras, são escassas e apresentam taxas em torno do zero.
Na verdade, os depósitos a prazo continuam a ser o produto preferido dos portugueses, talvez porque historicamente a sua remuneração compensava a taxa de inflação, permitindo manter o poder de compra, e porque, até hoje, apesar das intervenções no sistema financeiro, nenhum português perdeu dinheiro com aplicações em depósitos simples.
No entanto, na conjuntura actual, um depósito a prazo não é mais do que uma forma de manter uma depreciação constante do poder de compra, por via da inflação.
Recorde-se, aliás, que o BCE é responsável pela maior transferência de riqueza da história – que um dia será devidamente estudada –, que concentrou o capital nas mãos de uma elite e retirou a capacidade de acumulação de capital por parte da classe média, condenando-a ao empobrecimento e a trabalhar mais.
Entretanto, a dívida das principais economias continua a aumentar, quando contabilizada a das famílias, empresas ou sector público. É perante este cenário de dívida, de incerteza e de inversão da pirâmide etária que a poupança ganha ainda mais a sua relevância.
Poupar não consiste apenas em colocar dinheiro de lado, pois a inflação age como um imposto escondido que reduz o poder de compra. A poupança permite fazer face a imprevistos de saúde, situações de invalidez, funciona como complemento de reforma, é um veículo de transmissão de riqueza entre gerações, para além de ser a fonte do financiamento de empresas e do próprio Estado.
Sem poupança interna, os países tornam-se dependentes, doentes e mais sujeitos a pressões económicas.
Contudo, temo que este objectivo nunca seja cumprido, dado o estigma que os portugueses têm, em geral, relativamente ao capital, em virtude dos escândalos de corrupção e corporativismo que vêm do tempo da ditadura e perduram até hoje.
O dinheiro, ou o capital, está associado a origem duvidosa. Por outro lado, interessa ao Estado o incremento dos gastos com consumo, uma vez que esta é a forma mais rápida de arrecadar receita fiscal. Ou seja, o incentivo à poupança não é prioridade.
Numa época em que se confunde dinheiro com capital e dívida, importa salientar que uma sociedade verdadeiramente independente é aquela que não tem vergonha do capital. Só assim é possível pensar na sustentabilidade como um projecto de futuro, sem pressão.