Os países do sul, parcos em poupanças e ávidos pelo consumo, a forma mais rápida de delapidarem os seus cidadãos, aplaudem, enquanto os países nórdicos começam a ver o filme de terror em que se meteram.
Christine Lagarde parece insistir no erro das taxas negativas, imposto por um grupo de experimentalistas, que pouco contacto tiveram com a realidade económica, liderado por Mario Draghi.
Mesmo que Lagarde quisesse reverter as taxas negativas, infelizmente não o pode fazer. Estaria a colocar em causa Mario Draghi e a credibilidade do BCE, que continua a encomendar estudos para justificar o injustificável – o efeito positivo das taxas de juro negativas! Para mais quando está comprovado que à medida que as taxas de juro foram baixando, o nível de desigualdade aumentou. Quer isso dizer que as taxas elevadas contribuíam para a criação de riqueza?
Aparentemente, a classe mais pobre e a classe média viviam bem com inflação e juros altos, pois conseguiam adaptar o seu padrão de consumo por forma a retirar o máximo das taxas de juro. Por outro lado, poupavam e usufruíam das aplicações financeiras, mais do que compensando o efeito da inflação. Draghi retirou a capacidade de poupança à classe média, obrigando-a a ficar dependente de Estados que não têm capacidade de garantir reformas condignas.
Não admira que a Alemanha empurre com a barriga, quer o fundo de garantia de depósitos europeu, quer o de segurança social, uma vez que sabem que serão eles a apagar a luz e a pagar. A crise do euro não desapareceu, está apenas adormecida à espreita de uma nova oportunidade, e o BCE poderá ser o próximo rastilho.
Ao retirar a capacidade de poupança, o BCE está a atirar o destino à sorte de cada um. Quem tem dinheiro vê-se na contingência de arriscar para ter um pouco mais, quem não o tem tornou-se num escravo do trabalho.
Vivemos tempos de verdadeira insanidade, em que o marketing e a comunicação de soundbytes, através da manipulação das emoções, se sobrepõe à decisão racional. As condecorações e elogios a quem apenas teclou em zeros à direita, imprimindo enormes quantidades de dinheiro, constituem uma verdadeira afronta aos empresários e trabalhadores que todos os dias têm de enfrentar as dificuldades do mercado.
A história acabará por classificá-los como realmente foram – coniventes com um grupo restrito de empresários e políticos. Aliás, já se ouvem vozes a pedir outra intervenção dos governos.
Alguém duvida que será o contribuinte a pagar a próxima factura? E nessa altura o que será feito de Draghi e dos que o acompanharam nesta aventura insana?