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BCE, a verdadeira ‘eurobond’

Mais do que nunca, somos comandados por entidades que não respondem a ninguém, num verdadeiro teste à sobrevivência do projecto europeu.

BCE, a verdadeira ‘eurobond’

A situação actual de paralisação das economias causada pela pandemia vai colocar à prova o projecto europeu no que diz respeito à solidariedade social, política e, a mais falada, a financeira.

A gestão da crise tem sido desastrosa no seio da União Europeia (UE), sem coordenação entre países e uma estratégia comum. Neste momento, cada país tenta ir ao mercado comprar o que necessita e, claro está, quem tem mais dinheiro terá prioridade. Nesta situação a UE devia, como um todo, estar organizada para optimizar recursos financeiros, evitando assim a especulação, com um impacto social positivo ao apoiar os países mais afectados.

Porém, falar de solidariedade é relembrar o assunto “dinheiro” e as famosas eurobonds, agora baptizadas de “coronabonds”, talvez na esperança que pudessem ser consideradas como um mecanismo extremo, que se sobrepusesse a tratados e à vontade dos países mais disciplinados.

Ora, é um erro crasso pensar que teremos este tipo de obrigações na Zona Euro, também cometido por diversos dirigentes políticos na crise soberana, sem primeiro existir um verdadeiro federalismo algo que não está definitivamente na agenda. Aliás, o que esta crise irá demonstrar é que a população europeia está cada vez mais distante deste projecto e paz que foi a Europa, e tampouco sabe o que significa ser europeu.

Regressando à discussão das eurobonds e ao dramatismo do discurso político, pelo aproveitamento que colhe junto das populações, venho relembrar que a emissão destas obrigações poderia colocar em causa todo o mecanismo de financiamento existente, isto é, as obrigações já emitidas num valor superior a 12 biliões de euros.

Quem quereria comprar as obrigações “antigas” se as coronabonds tivessem garantias dos Estados,principalmente de Estados como a da Alemanha?

Mas para quê complicar quando temos um BCE que se comprometeu a comprar até um bilião de euros em dívida este ano?

O BCE está, embora ainda timidamente, a consolidar toda a dívida pública da Zona Euro.

Aliás, o BCE não deverá ter de esperar muito para perceber que terá de comprar muito mais do que o anunciado para 2020, um bilião de euros.

Se contabilizarmos a dívida que se vence este ano, de empresas e governos, e a necessidade de emissão de nova dívida pelo aumento dos défices em muitos casos superior a 10% do PIB, decorrente da ausência de receita fiscal e dos estímulos anunciados, então chegaremos à conclusão que o BCE vai ter de comprar cerca de 3 biliões de euros, ou 20% do PIB europeu.

Depois da política de taxas zero e negativas, os bancos centrais são mais do que nunca os verdadeiros “Donos Disto Tudo“, tal como vimos com a Fed, cuja intervenção se faz sentir desde o sector automóvel ao mercado imobiliário, aos escritórios, às obrigações municipais e do governo. Tudo terá de ser comprado pelos bancos centrais, incluindo, a seu tempo, as acções.

A normalização do papel dos bancos centrais morreu e, mais do que nunca, somos comandados por entidades que não respondem a ninguém, num verdadeiro teste à sobrevivência do projecto europeu.