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Investir na Bolsa com Dinheiro “Desonesto”

  • Investir na Bolsa com Dinheiro "Desonesto"

Quando comecei a investir na bolsa norte-americana, em que tudo se fazia ao telefone, as ordens eram escritas à mão em boletins que tinham a cor verde para as ordens de compra e outros de cor amarela para as ordens de venda.

Qual a razão para tal? No final do dia era mais fácil reconciliar as ordens com a corretora nos Estados Unidos e, assim, ter a certeza de que não se trocavam as ordens de compra com as ordens de venda; desta forma, quando se pegava num boletim amarelo, tinha-se a certeza de que se tratava de uma ordem de venda.

Apesar do processo hoje em dia ser totalmente automatizado, a realidade é que os princípios se mantêm, o botão de compra e o de venda ainda são diferentes em muitos sistemas, sobretudo quando se está a negociar instrumentos financeiros derivados.

No meu artigo, O Fim do dinheiro, escrevi sobre como as grandes instituições financeiras utilizam os derivados para proteger a sua carteira de investimentos; ou seja, utilizam-nos para gerir o risco dos seus investimentos.

Os investidores estão sempre à procura de dinheiro fácil – idiossincrasia da natureza humana -, em particular quando isso acontece por longos períodos de tempo, como foi o caso do nível de paridade Euro (EUR) vs. Franco Suíço (CHF), imposta pelo banco central suíço, como explicado nesse artigo.

O problema é que o mercado não dá dinheiro fácil permanentemente, caso contrário, não haveria razão para défices e pobreza. Todos ganharíamos sempre muito dinheiro e de forma permanente, nem seria necessário trabalhar.

Ora, desde a crise financeira de 2008, o mercado norte-americano entrou numa permanente tendência ascendente, como podemos observar na Figura 1 – índice sp500 – , fazendo com que a generalidade das opções “Put”, no momento em que atingiam a expiração, não tivessem qualquer valor; ou seja, quem as vendeu, recebeu o prémio e nunca teve que pagar ao comprador.

Figura 1

Ao longo desse tempo, a questão colocada pelos responsáveis de tesouraria das grandes instituições financeiras vendedoras de opções ‘’Puts’’nunca foi, “será que o mercado vai subir”, mas sim, “quanto é que o mercado vai subir”.

A queda no início do presente ano poderia ter sido um alerta de que não existem almoços grátis, mas os bancos centrais, uma vez mais, não permitiram que os prevaricadores fossem punidos, pelo que não sendo possível aprender com os erros, o normal será que se voltem a repetir, mas numa dimensão superior.

As eleições norte-americanas parecem estar agora resolvidas e os principais índices deste país, o sp500, o DOW 30 e o Nasdaq 100, fizeram novos máximos históricos, com base em notícias do lançamento de vacinas Covid-19 que não eram verdadeiramente notícias. Não me lembro de nenhuma subida tão abrupta e tão generalizada.

A presente situação é mais uma oportunidade para os mais cépticos colocarem em causa o sistema monetário e financeiro que temos.

Também para os reguladores perceberem que a suposta liquidez dada pelos algoritmos das empresas de Negociação de Alta Frequência ao mercado, é na realidade um holograma dessa suposta liquidez, como mais uma vez ficou provado com inúmeros títulos a subirem 30 e 40 % numa só sessão, com base na notícia de uma vacina que ainda não é vacina, mas é igual a outras notícias de outras vacinas que estão em testes.

Estes movimentos são tão anormais nas subidas quanto nas descidas. Claro que, neste caso, o movimento foi do lado da subida, mas a ser verdade que a bolsa é um mercado, também pode acontecer do lado da descida e aí vai ser um ai Jesus.

Voltando à história da vacina, existe um antigo ditado na bolsa que diz: “que poucos não enganam muitos durante muito tempo”; mas é difícil que até este ditado se mantenha neste novo mercado, porque podem ser poucos, mas bons, os que têm conhecimento, sobretudo se tiverem o chapéu de organizações respeitáveis para fazerem previsões para o futuro.

O valor atribuído às previsões foi sempre um mistério para mim.

Tenho 30 anos em cargos de administração e nunca fui capaz de saber se o ano seguinte ia ser melhor ou pior que o anterior, mas, mesmo assim, muitas vezes tive que escrever sobre as expectativas para o ano seguinte.

Escrever sobre as expectativas não é o mesmo que fazer previsões. Ter expectativas é desejar que tudo corra bem ou dentro da margem de erro; fazer previsões é ter uma opinião sobre aquilo que não se conhece e, sobretudo, não ter consequências se se estiver errado.

Não resisto a fazer a analogia do que se está a passar agora com a Covid-19. Veja-se o caso dos múltiplos especialistas, cientistas, em sectores totalmente desconhecidos para a maioria das pessoas, que desfrutam dos 5 minutos de fama e glória e que impõem a sua visão desvirtuada pela vaidade, fazendo previsões e afirmando coisas que não podem fazer pela natureza do seu trabalho.

Assumem-se como cientistas, mas um cientista é metódico e cauteloso no seu dia-a-dia e alimenta-se da dúvida criada pelos problemas, porque invariavelmente, a sua investigação levará a mais dúvidas. No entanto, quando está na televisão desfruta do seu momento de glória: só tem certezas e é arrogante.

Tudo o contrário de quem no seu dia-a-dia observa, experimenta e discute e só tem dúvidas.

Faz parte da natureza humana pensar que se pode mudar o mundo para melhor e, por isso, é difícil acreditar que nos encontramos na actual situação.

Todos pensam que é por causa do vírus, mas o problema é o dinheiro. O vírus veio e há – de ir, mas os efeitos desta crise ficarão connosco por muito tempo.

Isto não é uma previsão, é apenas uma expectativa, com base no facto de que se está a generalizar, em vez de particularizar, está-se a estatizar, em lugar de privatizar.

Claro que existem ainda outras expectativas, lá mais para o final, quando, sem liberdade, daremos mais valor àquela que tínhamos, habituados a ser apenas um número, daremos mais valor a ter um nome para honrar.

Quando passamos a solicitar a intervenção estatal para praticamente tudo, percebemos que qualquer solução começa em nós.

Tudo começa e acaba no dinheiro. Na necessidade de se ter dinheiro “honesto” e não criado a pedido, porque senão nunca saberemos o que acontece à economia ou com os gastos do estado.

O dinheiro tem uma moral implícita, por essa razão não deixamos dívidas aos nossos filhos, mas quando acumulamos défices e dívida, o que estamos a fazer é a transferir responsabilidades para as gerações futuras e isso é uma imoralidade.

O dinheiro é uma forma de comunicar em economia, e quando está distorcido com intervenções estatais e manipulações, com notícias falsas e trading algorítmico, como tem sido o caso neste século, os custos económicos são imprevisíveis, com ou sem previsões, simplesmente porque o sistema se tornou extremamente frágil.

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