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Bolsa de Valores: Comprar em baixa ou não?

Em 134 anos da bolsa de Nova York, é a primeira vez que assistimos a uma correcção de 16% da bolsa de valores, mantendo-se, mesmo assim, os principais índices norte-americanos acima da sua linha de suporte que define a tendência de subida. Este facto ilustra perfeitamente o quão cara estava a bolsa americana.

As empresas vão aproveitar o efeito Coronavírus como desculpa para rever os resultados em baixa, reduzindo, desta forma, as expectativas dos investidores, isentando de responsabilidades os administradores dessas mesmas empresas.

Bolsa de Valores: Comprar em baixa ou não?

Na passada semana, a reacção surpresa da Reserva Federal – o banco central norte-americano- de cortar em 0,5% a sua taxa de juro directora criou uma situação nova no mercado obrigacionista. Este último reagiu e já está a descontar dois novos cortes nas taxas de juro ainda este ano, com a rendibilidade implícita (yield) das obrigações a 10 e 30 anos inferior a 1%, algo nunca imaginado!

As obrigações a 30 anos nunca tinham baixado dos 2% até Fevereiro do presente ano, e será bom não esquecer que a inflação esperada é de 2%. Investir num rendimento inferior à inflação esperada parece ser um sinal claro de que o mercado prefere a liquidez e a segurança do mercado de dívida pública norte-americana ao mercado accionista, ou seja, está a prever uma acentuada recessão.

Para evitar esta recessão antecipada pelo mercado, a administração norte-americana terá de encontrar um estímulo fiscal convincente, algo que não parece evidente, quando os Estados Unidos da América apresentam défices de 1 bilião de USD (10^12 USD), quando é suposto a economia estar a funcionar a todo o vapor e a taxa directora da Reserva Federal está em torno a 1,00%-1,25%.

No crash de 1987, a taxa de juro da Reserva Federal (FED) estava nos 7,25% e 10 dias depois foi reduzida em 0,5%. Agora, a FED corta em 0,5% a taxa de juro, depois de uma queda de 10% da bolsa norte-americana e já a pensar nas mais que certas dificuldades das empresas de aviação, casinos, hotéis e de cruzeiros no cumprimento do seu serviço de dívida, num contexto de redução expressiva da sua actividade económica.

Em resultado das múltiplas intervenções dos bancos centrais nos défices orçamentais, agora é impossível dissociar os mercados da política. Por essa razão, podemos extrapolar alguns efeitos políticos possíveis gerados pelo Coronavírus:

  1. Acrescido controlo estatal da sociedade, já visível com o fecho de escolas, cancelamento de eventos, maior centralização, mais políticas públicas, mas gastos em tecnologia de segurança e controlo, tudo com o propósito de vigiar e controlar as populações, usando a desculpa do vírus;
  2. Maior e mais intervenção dos bancos centrais e, como tal, uma aceleração para o fim previsível deste sistema monetário, que procura qualquer desculpa para poder justificar a necessidade de criação de mais dinheiro. Antes do Coronovírus, o BCE e o BIS já advogavam pela necessidade de intervir por causa das alterações climáticas;
  3. Alteração ainda mais acentuada do sistema bancário, dada a impossibilidade dos bancos comerciais poderem intermediar poupança, a sua principal missão, em resultado de taxas de juro negativas e falências do sector empresarial, dada a sua incapacidade para pagar a dívida.

Nos últimos anos, os bancos comerciais já só sobrevivem graças aos bancos centrais e com a sua autorização. As cotações do sector bancário nos últimos 10 anos demonstram claramente que as alterações são necessárias e estão apenas pendentes de vontade politica.

Será a vontade política que decidirá se as Fintech poderão competir em pé de igualdade com o sector bancário, será a vontade política que decidirá se o sector deverá ou não ser nacionalizado, será a vontade política que decidirá se e quando haverá que alterar o sistema monetário. As possibilidades ainda são quase infinitas.

O que sabemos é que o tempo parece ter acelerado. Em 1995, pouca gente sabia o que era a Internet, e em 2005 já não se podia viver sem Internet.

Em 2007, apareceu o primeiro iPhone, em 2017 tudo se faz num telemóvel. O sector bancário actual, tal como o conhecemos, já morreu nestes últimos 10 anos, mas ainda não teve autorização política para morrer.

  • De acordo com o New York Times, o banco norte-americano Wells Fargo, por exemplo, pagou desde 2012, 18 mil milhões de USD em multas e, no mesmo período, pagou pouco mais de 2 mil milhões de USD em juros nas contas dos seus clientes, ou seja 9 vezes menos. Não é pela remuneração que são úteis os bancos, não é pelo serviço, porque agora todos os clientes são suspeitos, antes de serem clientes, e depois são uma caixa registadora que apenas servem para o débito de todo o tipo de comissões, justificadas pela necessidade de “serviços mais ou menos obrigatórios”.
  • Foi Victor Hugo que disse que: ‘’nada tem mais força que uma ideia no momento certo’’. Nada no sistema bancário actual parece estar certo, a não ser esperar por uma nova ideia.

Os tempos que se aproximam serão certamente de acelerada mudança!

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