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ONDE FALAMOS DE BOLSA
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Vai Ficar Tudo Bem

A Europa está em crise, o mundo está em crise, tudo porque a economia parece estar a falhar, misteriosamente, apesar do Nasdaq estar em máximos históricos e do número de auxílios que estão a ser dados a famílias e empresas. Nunca na história da civilização foram concedidos tantos auxílios com tão poucos resultados e ninguém parece preocupado.

Vai ficar tudo bem

Sabemos que seria necessário fazer alguma coisa, depois do confinamento, mas a maioria não sabe o que fazer, os políticos também não, quer seja pela tarefa gigantesca que está perante eles, quer seja porque se sentem impotentes.

Vai ficar tudo bem é a frase que ficou famosa em todo o mundo por causa da pandemia. Talvez a frase mais estúpida alguma vez criada para slogan, tendo em conta que morreram milhares de pessoas para quem certamente nada ficou bem.

O certo é que a frase ficou famosa, as pessoas parecem ter gostado da mensagem positiva de que no fim tudo acaba em bem e, por isso, decidimos usá-la para título deste artigo, embora, da nossa parte, o sentido seja irónico.

Como faço parte do designado grupo de risco, tendo em conta a idade e um pulmão danificado, antes de me dizer que vai ficar tudo bem, decidi fazer uma avaliação do risco.

Einstein disse que se tivesse só uma hora para resolver um problema de que a sua vida dependesse, utilizaria os primeiros 55 minutos para formular a pergunta de forma correcta. Segundo ele, depois de conhecer correctamente o problema poderia encontrar a solução em 5 minutos. 

Comecei por verificar qual é a esperança de vida para os homens em Portugal e o número que encontrei foi 78 anos, ou seja, a minha esperança de vida expectável é de mais 14 anos.

Pode ser muito ou pouco tempo, vai depender de muitas coisas entre as quais a sorte e o azar. Tendo em conta que estarei já na curva descendente, certo é que a qualidade de vida não será a mesma ao longo destes próximos 14 anos se comparado com os 64 já passados, mas vamos ser positivos e pensar que vai ficar tudo bem.

Depois verifiquei a média de idade das mortes em Portugal por Covid, que é de 81 anos, diz a DGS, o que parece claramente demonstrar que o vírus não está a ser disruptivo nesta temática, estão a morrer aqueles que estão em idade de morrer, tendo em conta a esperança de vida.

Tendo em conta, também, que a mensagem tem sido salvar vidas, e considerando que a morte é transversal a todos os vivos, e aqueles que estão a morrer estarem em idade de risco de morrer, penso que a mensagem adequada seria como viver o confinamento com felicidade, ou qualidade de vida para os que têm que estar confinados e garantir que os que têm que morrer, morram com dignidade, tendo em consideração que o vírus não está a matar fora dos parâmetros normais.

O que este artigo pretende é encontrar a pergunta correcta recordam-se?

Não é ter uma solução para ficar tudo bem, algo aliás impossível tendo em consideração que no fim está a… morte.

Assim sendo a pergunta a que cheguei foi a seguinte:

Vale a pena seguir à risca as recomendações ziguezagueantes dos políticos sobre o Corona vírus?

A resposta é não. Isso não quer dizer que não tenha preocupações e cuidados porque afinal, como todos, tenho medo.

Mas viver é assumir riscos, e não algo de garantido como parece ser a mensagem que nos querem fazer passar. Viver, em boa verdade, é um perigo constante.

Pessoalmente, o medo é diário, o medo de perder a honra, de perder a dignidade, de haver acontecimentos que façam os clientes perder dinheiro, de perder a capacidade de acreditar nas pessoas e no sistema.

O perigo está sempre presente na nossa vida, na saúde, na estrada, no trabalho, no meu dia à dia são milhares de folhas de leis e regulamentos, com dezenas de interpretações, que permanentemente me recordam que posso inclusive perder a liberdade, isto a 14 anos do fim da vida.

Às vezes sinto-me como aqueles soldados que na guerra, quase no fim da sua comissão de serviço, estão a viver os últimos dias antes de serem rendidos. O medo deve ser o mesmo. Medo de não cometerem erros, medo de terem o azar de levar um tiro perdido, agora que estão tão perto do fim, depois de terem tido a sorte de ainda estarem vivos.

Mas voltemos ao salvar vidas. A razão porque a mensagem é importante é porque ela é capaz de condicionar as pessoas com angústia, ou de as potenciar nos objectivos que se pretendem atingir, tudo dependendo das diferentes realidades mentais.

Ora, o nosso imaginário é diferente para cada um de nós. No imaginário da minha realidade mental, o médico e o enfermeiro que, sem perigo de pandemia e sem máscaras, que não tinham tempo nem vontade para acorrer à cama 47, onde estava o meu pai agonizante, que agora tem medo de abraçar os filhos quando regressa a casa, não sai da beira do contaminado com Covid, para tentar salvar mais uma vida.

Tal é a nossa vontade de ver o bem que não gostamos de considerar que não seja como estamos a imaginar.

O Estado protector que cada vez tem mais influência nas nossas vidas é outro mistério de adoração, se tivermos em consideração que é o Estado que estabelece as regras e as pode alterar a seu bel-prazer.

Por exemplo, na actual situação com o vírus, é difícil não pensar que estamos a ser manipulados, com mais e maior controlo do comportamento da população, com novas formas de censura, como recentemente descobri num artigo meu que não foi autorizado no Facebook, com maior repressão com a utilização da gravação de imagens nos sítios mais inusitados, para identificar doentes.

Mas depois, eventualmente, para identificar quem não seja do mesmo partido, não tenha a mesma opinião, ou simplesmente pensa de maneira diferente dos outros, em nome da segurança ou da estabilidade.

Mas o que torna esta relação um mistério é o facto de haver dois pesos e duas medidas no relacionamento mútuo com o Estado e tal facto não incomodar.

Por exemplo, um desvio de dinheiro no sector privado é fraude no Estado é um tema politico. Um erro privado em qualquer actividade desde que viole a lei deve ser exemplarmente punido, um erro no Estado nos casos especialmente graves é matéria para um ‘’inquérito ao mais alto nível para apurar responsabilidades até às últimas consequências’’.

E a forma como vemos os outros e os tratamos no seu conjunto?

Se são refugiados do Norte de África sem nada nem documentos, estamos disponíveis para os acolher e lhes dar habitação e apoio social e todo e qualquer outro apoio para os ajudar a integrar, sem qualquer outro tipo de preocupação, como se, por exemplo, podem ou não ser terroristas ou trazer ideias radicais.

Se ao invés chegarem em primeira classe e trouxerem uma mala de dinheiro e estiverem disponíveis para investir parte das suas posses em Portugal e ajudar o país, isso já é um problema porque provavelmente vêm fugidos de situações criadas no país de origem e estão a inflacionar os preços em Portugal.

E vejamos, o que fazemos com aqueles que não tiveram vontade ou oportunidade de se preocupar com o futuro?

Encontramos sempre algum programa ou subsídio que possa aliviar a situação, e para isso estamos disponíveis e bem, para nos endividarmos se necessário for.

Mas, por oposição, ninguém está preocupado com aquela pessoa que aforrou um qualquer montante de dinheiro para precaver o seu futuro. Por exemplo, quem aforrou 100.000 euros, em vez de receber 30.000 euros de juro ao fim de 10 anos está agora a receber a super remuneração de 0 euros no fim desse mesmo período, e ninguém está preocupado com quem lhe roubou os outros 30.000 que estava à espera de receber.

Sabemos que somos um país endividado e que vivemos num mundo com demasiada dívida, muita dela que nunca poderá ser paga e que terá que ser eliminada ou por falências ou por inflação; por outro lado, temos de salvar vidas mantendo o distanciamento social e trabalhando a meio gás, coisas que, perante os factos, parecem incongruentes.

Bem sei que é sempre mais fácil fazer prognósticos no fim do jogo, mas até por isso espero e desejo que este período de desconfinamento tenha o efeito de fazer as pessoas reflectir.

O facto é que se parece ter esquecido como funciona a economia. Que para sobreviver é preciso um rendimento, e esse rendimento deve vir de uma actividade económica, produto ou serviço, em falta no mercado e rentável.

Contudo, nos últimos anos só se tem falado de subsídios, da necessidade de mais dívida, de garantir o rendimento, de combater as alterações climáticas, em vez de se procurar mercados a preços competitivos.

Mas como se faz isso em mercados que não são livres e estão manipulados?

Não é certamente falando de emissões de CO2 só ao alcance das grandes empresas, enquanto todas as outras têm de enfrentar todo o tipo de polícias para fazer cumprir regras, que foram criadas para as grandes empresas e que são a garantia de que as pequenas terão que fechar.

Políticos e reguladores adoram legislação, dá-lhes mais poder. Quem não gosta de estar numa situação de poder? Quem pode evitar uma interpretação mais pessoal de toda aquela prosa e impor um estilo na sua área de comando?

Onde estará o limite? Poderá esta pandemia ser, uma espécie de ensaio geral para uma coisa mais a sério?    

Estamos certos que vai ficar tudo bem.

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