Ao longo da história das bolsas de valores, o investimento em bancos sempre foi uma opção considerada pela maioria dos investidores.
No entanto, desde a consolidação desta actividade em mega bancos centrais, em particular desde o aparecimento do Banco Central Europeu, no início do século XXI, na óptica do investimento, o fluir de más notícias é contínuo para este sector de actividade.
As notícias são sempre negativas: bónus e incentivos a gestores que em nada se relacionam com o desempenho das instituições, intervenções estatais para evitar a iminente falência, sempre com o argumento de um possível cataclismo para os depositantes, multas milionárias por parte dos supervisores, em resultado do não cumprimento das regras de supervisão, confisco dos depositantes, como aconteceu no Chipre, depositantes desesperados à frente dos balcões impedidos de levantar o seu dinheiro, como aconteceu na Grécia….enfim, um sector de actividade totalmente cediço e a caminho do abismo.
A resposta dos dirigentes e burocratas a cada crise tem sido invariavelmente a mesma: mais poder aos bancos centrais, uma supervisão crescentemente kafkiana, repressão financeira sobre os aforradores, com a imposição de taxas de juro nulas ou, em alguns casos, mesmo negativas, algo impensável num mercado livre, ameaça do desaparecimento do dinheiro físico, com o amparo da classe dirigente, conferências de imprensa mensais por parte dos banqueiros centrais, que constituem autênticas cavilações, onde sistematicamente se lamenta uma inflação inferior a 2% – vá-se lá saber onde encontraram este valor e o porquê da sua bondade -, com o único propósito de justificar a impressão massiva e crescente de dinheiro do ar.
Em cada crise financeira, aplica-se sempre a mesma receita, mas com doses crescentes. Em 2008, há doze anos aproximadamente, uma ajuda ao sistema financeiro de 700 mil milhões de USD podia significar o fim do mundo, um escândalo de proporções bíblicas.
Para a sua aprovação foram necessárias discussões intermináveis no senado e congresso norte-americano.
Agora, basta uma conferência de imprensa de um banqueiro central para proceder a anúncios de valores estratosféricos, que ultrapassam, em muito, os estímulos monetários da anterior crise financeira (notícia 1, notícia 2).
Em primeiro lugar, este sector actua com base numa fraude designada por Reservas Fraccionadas – um autêntico desrespeito pela propriedade privada, que nada tem a ver com capitalismo –, processo abundantemente explicado em artigos anteriores.
Quando os metais preciosos eram utilizados como moeda, os bancos concediam crédito mediante a emissão de notas ou lançamento a crédito do cliente de um valor sem a existência do ouro físico correspondente, dado que sabiam que os depositantes não apareciam de uma só vez a exigir o seu ouro.
Numa segunda fase, como o livre mercado podia colocar a nu tal prática, promoveram a criação de bancos centrais para que esta prática fosse obrigatória e coordenada – estamos todos juntos nisto, mas com regras por favor!
Na última fase, desde 1971, pela eliminação do Ouro como moeda. Agora toda a emissão de moeda é realizada por contrapartida de nova dívida.
Tal como um Madoff ou uma Dona Branca, um esquema em pirâmide como o actual sistema monetário apenas se mantém caso cresça de forma exponencial – emissão de nova dívida tem de ser superior à dívida amortizada.
Por essa razão, Bernie Madoff necessitava de entradas crescentes de novos clientes e depósitos todos os anos, a uma escala que nunca poderia imaginar quando se aventurou em tal esquema nos finais da década de 80.
Por essa razão, a dívida pública da maioria dos estados cresce exponencialmente de há anos a esta parte, sem cessar. Para os estados suportarem tal dívida, os juros devem ser nulos ou negativos, caso contrário, a falência de muitos estados estaria assegurada.
Para obrigar os depositantes a suportar juros negativos, a única solução passa por eliminar o dinheiro físico; assim, nenhum depositante logra retirar o seu aforro de tal esquema e será obrigatoriamente confiscado.
O cumprimento do serviço de dívida por parte dos estados obriga à aplicação de um autêntico garrote fiscal sobre os cidadãos.
Em conclusão, actualmente o sector bancário está obrigado a suportar uma enorme carga regulatória e a actuar num ambiente de forte repressão financeira (taxas de juro nulas ou negativas), com o seguinte impacto na sua actividade:
Em paralelo a tudo isto, surgem as Criptomoedas. A necessidade de gastar enormes somas de dinheiro em sistemas informáticos para garantir a fiabilidade do registo de depósitos e movimentos nas contas dos clientes deixou de fazer sentido.
Por mais que contratem técnicos e sistemas informáticos ou incrementem a pletora de supervisores, o banco tradicional não tem qualquer possibilidade de concorrer com um sistema incomparavelmente mais seguro, barato e fiável, como são as Criptomoedas.
É neste contexto, que podemos estar a assistir aos últimos anos do negócio bancário, tal como o conhecemos.
Em primeiro lugar, pelo número cada vez mais diminuto do número de bancos europeus cotados em bolsa, essencialmente em resultado de concentrações bancárias e nacionalizações directas ou encapotadas.
Se analisarmos 10 países europeus, podemos constatar na Figura 1 que um país como a França possui apenas 16 entidades cotadas em bolsa.
No caso de Portugal, apenas o BCP está cotado na bolsa portuguesa; o BES desapareceu e o BPI foi “engolido” pelo Caixa Bank, que agora se irá fundir com o Bankia.
Importa destacar a Grécia que se recusou a receber as mágicas resoluções bancárias do BCE, pois ainda possui 5 entidades bancárias cotadas em bolsa.
Se agruparmos os bancos por nacionalidade da bolsa de valores, podemos observar que investir em bolsa através da compra de acções de entidades bancárias não tem sido favorável no presente ano, em particular nos países com uma elevada dívida pública, como Portugal, Grécia e Espanha.
Desde o final de 2019 até à sessão de 16 de Setembro de 2020, o BCP, a única entidade bancária portuguesa cotada em bolsa, caiu 55%, tal como podemos observar na Figura 2.
No caso dos bancos gregos, essa queda foi de 60%; e espanhóis de 37%.
Quando realizamos uma análise para as últimas 52 semanas, a situação é menos desfavorável para Espanha e mais desfavorável para França, com uma queda de 29% – a média simples da rendibilidade nas últimas 52 semanas para os seus 16 bancos.
No caso da Alemanha, o país com a menor sangria, importa alertar o leitor que o Deutsche Bank não é considerado nesta análise, pois o seu negócio deriva em grande parte de receitas provenientes da actividade de investimento (corretagem, emissão primária de valores mobiliários, assessoramento a fusões e aquisições…), não sendo propriamente um banco de retalho tradicional.
Os supervisores e dirigentes têm um absoluto terror em enfrentar estas instituições, pois estas possuem activos que no seu conjunto são superiores à dimensão do PIB do próprio país.
Ao contrário do que nos prometeram na anterior crise, a imoralidade representada pela expressão “demasiado grande para falir” tornou-se ainda mais presente.
Como podemos constatar na Figura 3, os activos agregados dos bancos cotados em bolsas francesas correspondem a 5,6 biliões de Euros, enquanto o PIB francês era de apenas 2,4 biliões de Euros no final de 2019, resultando no rácio de 230%.
No caso de Portugal, era apenas de 38%, pois o BCP possuía activos no valor de 82 mil milhões de Euros e o PIB português era de 212 mil milhões de Euros no final de 2019.
Esta dimensão desproporcionada, fruto do sistema de reservas fraccionadas, irá agravar-se em 2020, em resultado da crise Covid-19 que irá reduzir de forma expressiva o PIB de muitos países.
O país com o maior sector bancário, a França, actua com uma alavancagem financeira muito elevada.
É o mesmo que conceder um crédito de 10 mil euros: 9.853 Euros provêem de terceiros, depositantes e banco central, e 147 Euros dos capitais próprios do banco.
Trata-se de uma alavancagem com um múltiplo de 68 (10 000 ÷ 147), tal como podemos observar na Figura 4.
Em França, o valor agregado da capitalização bolsista dos 16 bancos corresponde a 83 mil milhões de Euros, enquanto os activos agregados a 5 586 mil milhões de Euros (ver Figura 3).
Uma perda de apenas 1,5% do valor dos activos agregados(5 586 × 1,5%), o correspondente a 83 mil milhões de Euros, pode significar a falência!
Como podemos observar na Figura 4, a situação é igualmente preocupante para o conjunto dos bancos gregos, com uma alavancagem de 63 vezes!
Na Europa, os maiores bancos, de acordo com uma ordenação decrescente da capitalização bolsista, encontram-se em bolsas de nacionalidade francesa, espanhola e italiana (ver Figura 5).
O primeiro da lista é o BNP Paribas (França), com uma capitalização bolsista de 45 mil milhões de Euros; o segundo, o Banco Intesa com uma capitalização bolsista de 34 mil milhões; o terceiro, o Banco Santander com uma capitalização bolsista de 30 mil milhões de Euros.
No presente ano, tiveram quedas em bolsa de 32%, 25% e 52% respectivamente. O Santander no início de 2020 valia mais de 65 mil milhões de Euros.
A cotação do BNP Paribas encontra-se numa tendência lateral desde 2000, com um suporte em torno a 25 euros por acção e uma resistência em torno a 60 euros por acção.
Nestes últimos 20 anos, constituiu um investimento “para nenhum lugar”!
Em relação ao banco Intesa San Paolo, encontra-se numa tendência descendente desde o final de 2007. Apresenta um suporte em torno a 1,5 euros por acção; a eventual queda abaixo deste patamar poderá acentuar esta evolução negativa (ver Figura 7).
Por fim, o banco Santander, o terceiro da nossa lista.
Encontra-se em mínimos de mais de 20 anos!
No presente ano perdeu um suporte importante, em torno a 3,3 Euros por acção; desde então, parece não existir um fundo para as possíveis quedas.
Em conclusão, o negócio bancário pode estar próximo de uma nova crise.
Para atenuar o impacto da crise Covid-19, os governos patrocinaram moratórias aos clientes por parte dos bancos, implicando um perda expressiva de fluxos monetários (pagamento pelos clientes de juros e capital) a favor dos bancos, algo que uma simples empresa não suportaria.
O concubinato entre governos, banqueiros centrais e banqueiros, em paralelo com o advento das Criptomoedas, poderá representar a sentença de morte deste sector de actividade nos próximos anos.