Uma das melhores definições de insanidade é atribuída ao grande cientista Albert Einstein: “continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Outra citação do mesmo autor, igualmente relevante para o presente artigo: “Duas coisas são infinitas, o Universo e a estupidez humana; não estou seguro em relação ao Universo”.
Há semanas atrás, celebrou-se com pompa e circunstância um novo plano da União Europeia. De imediato, surgiram encómios de todos os quadrantes.
Segundo os seus autores, trata-se da resposta europeia à presente crise Covid-19, visando “impulsionar a recuperação europeia, proteger os cidadãos, garantir meios de subsistência e salvar empregos”.
Para tal desígnio, propõem um orçamento de 2,4 biliões de Euros, cerca de 12 vezes o PIB português, e asseguram-nos: “garantirão que a nossa União seja um protagonista decisivo na cena mundial, tanto no plano das alterações climáticas e da protecção dos recursos naturais, como a nível digital e social. É chegada a hora da Europa”.
Definitivamente, a pudicícia é algo que não abunda por Bruxelas.
Segundo a proposta, aparentemente, os 2,4 biliões de Euros surgem de algum truque de prestidigitação!
Este guião de planos salvíficos não é novo; como seguidamente irei demonstrar, estamos há décadas a ser propagandeados com estas patranhas.
Em 1999, a adesão de Portugal ao Euro seria o plano perfeito.
Finalmente, iria colocar-se um ponto final no regabofe das finanças públicas portuguesas, dando-nos acesso ao clube VIP europeu.
Nessa altura, os critérios de adesão obrigavam a:
Como podemos observar na Figura 1, está visto que a pândega é algo congenial da nossa idiossincrasia.
Em 21 anos, chumbámos 15 vezes no exame!
Em relação à dívida pública, para além do papel sistemático de “Zequinha” da classe, em 21 anos anos chumbámos 17 vezes, conseguimos a proeza de realizar emissões líquidas de dívida pública ao ritmo anual de 9,2 mil milhões euros entre 1999 (65, 5 mil milhões de Euros) e 2019 (250 mil milhões de Euros).
Para simplificar, foram 900 euros por ano a cada português. Em 20 anos, cada português, em nome do estado, endividou-se em 18 mil euros. No caso de uma família de 4 pessoas: 72 mil euros!
Em Abril do presente ano, a coisa já ia em 262 mil milhões de Euros: um crescimento de 12 mil milhões de Euros, em apenas 4 meses!
Para além de projectos grandiloquentes como a moeda única, em Março de 2000, a então “Europa” já ambicionava posicionar-se na vanguarda da liderança mundial.
Constava assim: “o Conselho Europeu estabeleceu o objectivo ambicioso de tornar a Europa a economia mais competitiva e dinâmica do mundo… a Europa necessita, com urgência, de explorar rapidamente as oportunidades da nova economia, nomeadamente a Internet”.
Passados 20 anos, a capitalização bolsista das empresas tecnológicas fundadas no Espaço Europeu desde 2000 representava apenas 17% do total mundial, uma percentagem inferior ao peso da sua economia no mundo, em torno a 20%.
No caso dos Estados Unidos, com um peso económico ligeiramente superior, a capitalização destas empresas representava, aproximadamente, 50% do total (fonte: Quartz).
Por outro lado, quando ouvimos nomes como Facebook, Apple, Amazon, Microsoft, Samsung ou Baidu, tudo nos soa a europeu, ou mesmo português!
Em 2001, o então guru das finanças nacional anunciava um novo plano: o Plano de Redução da Despesa Pública.
Para a elaboração do mesmo, juntaram-se várias luminárias que então se pronunciaram acerca do mesmo da seguinte forma: “é útil e servirá para ajustar a economia portuguesa”. Como foi útil!
Entre 1999 e 2010, a dívida pública portuguesa cresceu a um ritmo próximo de 6% ao ano, enquanto o PIB nem a 4% cresceu!
Mas a escalada ao monte Olimpo estava quase a terminar; em 2007, faltava o último esforço.
Foi assim anunciado: “o Plano Tecnológico é uma peça essencial da política económica…para responder de vez aos problemas estruturais que têm afectado o crescimento económico de Portugal”.
Na prática, tratava-se de um elenco de lugares-comuns, vagas intenções, frustrações, sentimentos e aspirações.
Adicionalmente, também apresentava uma enorme lista de compras. Hoje, sabemos porquê: amigos, correligionários e compadres envolvidos na patranha divertiram-se a desperdiçar e a embolsar o nosso dinheiro e a endividar-nos até ao infinito.
Um dessas listas de compras rezava assim: “Fornecer às escolas com 2.º e 3.º ciclos do ensino básico ou com ensino secundário: 310 000 computadores até 2010; 9000 quadros interactivos por ano até 2010; 25 000 videoprojectores até 2010”.
Mas os planeadores centrais nunca nos conseguem responder a estas perguntas. Organizam uma tertúlia e decidem que são 330 mil.
O então primeiro-ministro perdeu uma fulgurante carreira como vendedor itinerante de computadores Magalhães e os problemas estruturais do país foram resolvidos em definitivo: com uma terceira bancarrota. Para agravar a coisa, posteriormente, ficámos a saber que os autores do ditoso plano eram autênticos salteadores.
Em 2017, a criatividade para nomes de planos atingiu o ápice.
O plano tinha o seguinte enquadramento: “A economia circular…é uma componente da mudança necessária do actual paradigma económico (linear), cujo uso pouco eficiente e produtivo dos recursos extraídos conduz a prejuízos económicos e ambientais significativos”.
Creio que o objectivo principal é passar de linear a circular. Será que linear é mau e circular é bom? Até debates foram organizados a respeito. Acreditem que é verdade!
Em plena crise Covid-19, gerada pelos próprios governos, fruto de confinamentos que destruíram totalmente a economia, temos agora um novo plano, desta vez da União Europeia.
A mesma receita de sempre: mais dívida, mais gasto público e inflação.
Claro: eu e você; como sempre, em todos estes planos.
Estimado leitor, a pergunta que deveríamos fazer a estes alienados era a seguinte: se você julga que esse projecto é assim tão fantástico, porque motivo não utiliza o dinheiro do seu bolso e se torna empresário? Já sabemos que a resposta será difícil.
Eles são bons a gastar o dinheiro dos outros, a comprar votos com o dinheiro dos outros e a realizar propaganda com o dinheiro dos outros.
Caro leitor, se ouvir falar em plano, dou-lhe um conselho: Fuja!