O Estado Social garante a nossa paz no final da vida. Esquece-se de assinalar que os trabalhadores activos terão de continuar a ser confiscados para pagar o sistema, tal como um esquema piramidal.
Nos dias que correm, é consenso generalizado que o Estado Social significou um avanço civilizacional sem precedentes, em particular no velho continente. Segundo os panegiristas europeus, o resto do mundo sente inveja, atendendo ao bem-estar sem paralelo que é proporcionado às populações. Será mesmo assim? Será que o insigne Estado Social é mesmo a terra prometida por Deus a Abraão?
Há meses, o Instituto Nacional de Estatística veio revelar que a carga fiscal em Portugal em 2018, incluindo contribuições para a Segurança Social, tinha atingido um novo máximo histórico: 35,4% do PIB. Atendendo que o PIB português em 2018 foi de 203.896 milhões de Euros, a carga fiscal arrecadada pelo estado português resumiu-se a 71.771 milhões de Euros, aproximadamente 7 mil euros por cada português (10 milhões de habitantes, incluindo idosos, crianças, população activa…) e cerca de 17.500 Euros por agregado familiar (4,1 milhões de agregados familiares).
No meio destes valores tão absurdos, surge a questão: Se no final de cada ano, o estado português, em lugar de cobrar, entre muitos outros tributos, Segurança Social (trabalhador e entidade patronal), IRS, IVA, IA, taxas, emolumentos, decidisse apresentar uma conta única. Uma factura de 17.500 euros a cada família; o que poderia acontecer? Seguramente, uma revolução!
E porque tal não acontece? A cobrança realiza-se sub-repticiamente, através de taxas, tributos e impostos de toda a espécie, em praticamente todas as dimensões das nossas vidas: trabalhador, empresário, proprietário, viajante, pai, mãe, supervisionado…nada lhe escapa! Tudo, está claro, em nome da justiça social e para nosso conforto.
Neste verdadeiro conto de fadas, os pobres e os desfavorecidos são a grande preocupação: por eles, e para eles, existe o Estado Social; no entanto, algo intriga nesta ficção; efectivamente, como será que vivem? As últimas notícias veiculadas pela imprensa indicam que o salário médio português é agora de 951 Euros; infelizmente, e para nossa desgraça, trata-se de uma autêntica miséria, que nos faz pensar como vivem muitos dos nossos compatriotas. Vamos então realizar um exercício, tentando estimar os rendimentos e gastos mensais de uma família média na terra prometida – simulação que consta na seguinte figura.
Importa assinalar que no nosso exercício praticamente não existe poupança; apenas de 72 Euros. É natural. Infelizmente, a maioria das famílias portuguesas espera pelos subsídios de Férias e de Natal para tapar despesas extras ou adicionar algo ao seu pequeno pé-de-meia.
Aqui chega o sobressalto: do valor gerado por dois colaboradores, cerca de 2350 euros, o estado surripia 1.070 Euros (2 354 – 1 284), 45% do total! Praticamente, esta família trabalha 6 meses, ou seja, 50% do ano, para sustentar a sua estada no paraíso. Estamos a falar de pobres! O que seria se o exercício contemplasse os propalados milionários portugueses, aqueles que ganham mais de 3 mil euros por mês! A esses, certamente, se lhes subtrai em torno de 60 a 70% do que geram para a sociedade.
Mas importa ter fé! Talvez, quando alcançarmos a plenitude do Estado Social, isto é, 100% do que produzimos seja entregue ao Estado Social, a primeira posição seja nossa.
Deste modo, uma perplexidade nos assombra: como é possível este logro ser vendido sem qualquer resistência ou contraditório?
Através de propaganda e apelando à inveja, usando um discurso que utiliza a eterna dicotomia ricos vs. pobres, na versão da Igreja Católica, capitalistas vs. operários, na versão dos marxistas; quando, na verdade, deveria ser a seguinte:
Outra forma de propagar o rancor e a inveja é repetir até à exaustão que os ricos estão em fuga, não pagam a sua parte. Como? Através de offshores, o novo alvo a abater. Não há dia que não apareça alguém a vilipendiar ou a soltar alguma ignomínia sobre os offshores. Perante este contexto, de saque permanente, é óbvio que não era de esperar outra coisa: qualquer pessoa com um palmo de testa e dinheiro tentará colocar as suas poupanças “ao fresco”. Ninguém gosta de ser assaltado, é inerente à natureza humana.
A falta de acesso a serviços essenciais, em particular à saúde e educação, por uma grande parte da população, é outro dos argumentos da propaganda. Ora, se aplicássemos o mesmo conceito à comida, um bem crítico à nossa sobrevivência, como seria? Teríamos de criar um ministério para decidir tudo: o menu diário, as contratações de colaboradores (cozinheiros, ajudantes de mesa…), os locais dos restaurantes e a selecção de fornecedores. Em paralelo, um sindicato iria assegurar a representação de todos os trabalhadores do sector.
Será que isto iria funcionar, a mesma refeição, o mesmo menu, a mesma apresentação dos restaurantes, a mesma marca? Com elevada probabilidade, acabaria com escândalos de corrupção, ineficiência e nepotismo, precisamente o que aconteceu na saúde e na educação nos últimos anos. Definitivamente, o planeamento central não funciona, a queda da União Soviética em 1991 já o provou. A recente evolução na Venezuela também: a fome alastrou-se a uma grande parte da população, com histórias surrealistas, de gente faminta à procura de cães na rua para tentar aconchegar o estômago.
Tal reflecte-se no quotidiano do sector financeiro, que agora recebe todos os dias múltiplas intimações para retirar quantias das contas dos “devedores” a favor do estado, sem qualquer possibilidade de defesa ou argumentação. A intimidação atingiu tais proporções, que há meses a cobrança coerciva passou a realizar-se de arma em punho.
Mas a verdadeira “Vaca Sagrada” do Estado Social é a Segurança Social, aquela que assegura a solidariedade intergeracional. Com isto, em lugar dos cidadãos decidirem onde colocarem as suas poupanças, o Estado Social garante a nossa paz no final da vida; no entanto, esquecem-se de assinalar que os activos para cobrir as reformas são residuais e que os trabalhadores activos terão de continuar a ser confiscados para pagar o sistema, tal como um esquema piramidal. Será que daqui a 20 anos existirá gente suficiente para pagar as reformas?
Não será hora de parar e perguntar se tudo isto faz algum sentido? Será que queremos continuar a ser escravos de uma máquina que não nos deixa decidir o nosso destino?