Recentemente, numa carta assinada por multimilionários de várias partes do globo, em que a esmagadora maioria são norte-americanos, dirigida aos cidadãos do mundo – uma atitude, no mínimo, proterva – estes solicitam aos governos que “…lhes subam os impostos.
Imediatamente. Substancialmente. Permanentemente”.
Este pungente apelo a uma brutal subida de impostos, resulta, segundo os signatários da carta, da “extrema preocupação” que sentem para com os comuns mortais que habitam este planeta; que se acentuou, face à crise “pandémica” Covid-19 que assolou a humanidade (em muitos casos, apresentou menos óbitos que uma simples gripe!)
Segundo eles, esta crise não se resolve com caridade; a solução residirá na capacidade de obtenção de receita fiscal, com o propósito de aplicá-la correctamente: entre múltiplas aplicações, sugerem investir nos sistemas de saúde e na rede escolar – fica sempre bem a educação e a saúde.
Devemos chorar ou rir? Que razões estão por detrás deste tocante apelo por mais impostos? Ao melhor estilo Robin Hood!
Entre os signatários, encontram-se descendentes de grandes empresários norte-americanos, como Abigail Disney, sobrinha-neta de Walt Disney.
Há uns meses atrás, o problema que afectava estas almas era a desigualdade social.
Agora, com a “pandemia” Covid-19, o apelo a um maior latrocínio fiscal é mais arrebatador: os estados necessitam de mais recursos para combater precisamente a crise que eles mesmo criaram!
Este insigne grupo de conspícuos deveria dar-nos algumas explicações sobre a recente evolução das contas públicas de vários estados, em particular do estado federal norte-americano.
Desde o início do presente ano, tal como podemos constatar na Figura 1, até ao início de Julho, a dívida pública subiu mais de 3 biliões de USD, aproximadamente, o equivalente a 16 vezes o PIB português, ou entre 3 a 4 vezes o PIB espanhol!
Entre 2000 e Julho do presente ano, a dívida pública norte-americana está a crescer ao ritmo de 8,1% ao ano (366% entre 2000 e Julho de 2020).
Para o mesmo período, em termos nominais, o PIB norte-americano cresceu apenas 3,7% ao ano (106% entre 2000 e 2019)!
Como podemos constatar na Figura 2, desde que o banco central norte-americano iniciou uma política monetária de juros 0%, ou próximos desse valor, realizando estímulos monetários sem cessar, sempre crescentes, em que o último sempre multiplica por muitos o anterior, a percentagem da riqueza detida pelos mais ricos nos Estados Unidos não pára de subir.
Em 1980, a riqueza dos 5% mais ricos representava aproximadamente 14% da riqueza total nos Estados Unidos; actualmente, encontra-se em torno de 22%; um crescimento de 8 pontos percentuais em 40 anos!
Os 5% mais ricos são aqueles que possuem grande parte da sua riqueza em activos financeiros, como acções e obrigações.
Podemos analisar o que se passou a partir da última crise financeira; todos nos recordamos da falência do banco de investimento norte-americano, o Lehman Brothers, em Setembro de 2008.
A Reserva Federal norte-americana decidiu que o dinheiro passaria a ser grátis, bem como disponível em quantidades astronómicas – fruto de programas de estímulos monetários sem paralelo.
O seu balanço subiu 6 biliões de USD (10^12 USD) entre o final de 2007 e Julho de 2020, um valor que representa 30% do PIB norte-americano!
A taxa de juro, na prática um preço, deveria reflectir a procura e oferta por poupança de todos os agentes – empresas, particulares e instituições financeiras.
Actualmente, tal já não existe. Estes senhores decidiram que o dinheiro passou a ser grátis, ou subsidiado.
Em muito países, os juros negativos são uma realidade.
O que irá realizar a direcção de uma empresa neste novo mundo: pedir crédito, obviamente.
Mas não irá servir para construir fábricas ou realizar investimentos, servirá para comprar acções próprias (os denominados buy–backs), com o objectivo de fazer subir o preço das acções em bolsa e permitir enormes prémios para os gestores e mais-valias para os accionistas.
No novo mundo, o estado, através do seu banco central, emite dinheiro do ar, uma fraude e confisco de propriedade privada, para gerar um processo de enriquecimento artificial dos detentores de activos financeiros.
Este processo não exige a produção de mais bens e serviços para a economia, apenas injecção de “dinheiro falso”. Em conclusão, um confisco dos mais pobres a favor dos multimilionários.
O caso da empresa Apple é um bom exemplo. Esta empresa tem um enorme programa de compra de acções próprias (Buyback) e uma importante parte do seu capital é detida por esse “amigo dos pobres”, Warren Buffett, que há uns anos exasperava por mais impostos, solicitando permanentemente em entrevistas que o tributassem mais, por favor!
Como podemos constatar na Figura 3, os resultados operacionais anuais da Apple estão estagnados desde 2015, onde atingiram um máximo histórico, em torno a 71 mil milhões de USD.
Entre 2010 e 2019 subiram 250%, enquanto o preço das acções em bolsa subiu mais de 1300%, entre 2010 e Julho de 2020!
Ainda há semanas, Warren Buffett rejubilava com as medidas desta entidade, afirmando: “…tomou medidas sem precedentes, para manter a economia dos EUA estável face à crise COVID-19”.
O concubinato entre os multimilionários norte-americanos e a Reserva Federal (FED), o banco central norte-americano, torna-se evidente quando visualizamos a evolução do balanço do banco central e pontos do principal índice bolsista norte-americano: o S&P 500.
Na Figura 4 podemos observar esta evolução.
No momento em que finalmente ocorreu uma correcção expressiva do mercado, final de Fevereiro do presente ano, causando, certamente, um enfado aos multimilionários norte-americanos, resultante da “pandemia” Covid-19, a FED, em poucos meses, subiu o seu balanço em 3 biliões de USD, de 4 para 7 aproximadamente.
De imediato, o índice S&P realizou uma recuperação em “V”, subindo dos 2200 para um valor superior aos 3000 pontos!
Neste sentido, um dirigente político conhecido chegou a afirmar que a economia era algo semelhante a um interruptor da luz de nossas casas. Para a proteger do vírus Covid-19, desligava-se, quando passasse, ligava-se de novo…sem palavras!
O que acontece ao seu preço quando estes comissários soviéticos decidem comprá-las a partir da emissão de dinheiro do ar?
Mais uma vez, os multimilionários detentores destes activos financeiros.
Para ilustrá-lo, podemos observar a Figura 5, onde se apresenta a evolução da taxa de juro implícita das obrigações gregas com maturidade a 10 anos.
No momento da crise de dívida soberana europeia, a taxa de juro encontrava-se em 40%, o que na prática indicava a falência do estado grego.
Apareceu então o Messias: Mario Draghi, o homem da máquina de imprimir de dinheiro.
Aplicou os seus dotes de prestidigitação, comprando estas obrigações com a sua máquina de fazer dinheiro – se eu ou leitor fizermos o mesmo, o nosso destino é a cadeia – e o preço subiu mais de 1 000%, de 30 para 350, aproximadamente; ao mesmo tempo, a taxa de juro caminhou para os 0%. Um génio!
A manutenção de um banco central predatório das pequenas poupanças e a manutenção de uma máquina fiscal implacável, extorquindo cada cêntimo da plebe; em paralelo, lavam a sua alma com estos grandiloquentes apelos dirigidos aos cidadãos do mundo.
Quando precisam de dinheiro, vendem uma pequena fracção das suas acções, obviamente pagando as mais-valias correspondentes, e podem viver descansados por muitos anos; ao mesmo tempo, o banco central garante que a sua carteira de activos financeiros valoriza-se sem cessar e muito acima da inflação.
A fiscalidade que pretendem, muito pior que a aplicada a um servo na idade média, assegura que qualquer pequeno empresário que deseje expandir ou realizar concorrência às empresas estabelecidas, das quais são accionistas, seja morto à nascença, atendendo que quaisquer lucros que pudessem ser reinvestidos são sugados pela máquina fiscal.
Desta forma, a concorrência fica eliminada.
Além disso, para implementar uma carga fiscal tão elevada, é necessário estabelecer um autêntico big brother sobre as pessoas, dado que é natural que as pessoas empreendedoras tentem evitar, por todos os meios, o esbulho do produto do seu trabalho.
Ainda se espantam que floresçam offshores quando pretendem tributar os cidadãos a 70 e 80% (segurança social do empregador, segurança social do colaborador, IRS, imposto de sociedades, IVA…), de forma directa e indirecta!
Neste sentido, compreendem-se as intermináveis directivas europeias de combate ao terrorismo (sic), ao comércio de armas de destruição maciça (sic) e à lavagem de dinheiro, um eufemismo para disfarçar o seu verdadeiro objectivo: não permitir que a plebe escape ao confisco.
Querem eliminar o dinheiro físico, querem controlar as criptomoedas, querem controlar as idas aos cofres dos bancos, querem tornar os bancos em simples repartições de finanças (algo já praticamente alcançado) e uma extensão da polícia…é esse o caminho.
O confisco dos rendimentos e lucros não permite gerar poupanças, algo indispensável à acumulação de capital.
Sem acumulação de capital, a produtividade e os rendimentos não sobem; tal processo, apenas conduz à miséria e ao desespero.
É interessante que estes multimilionários apelem ao investimento em três áreas, duas já comentámos – saúde e educação -, a terceira é a segurança. O confisco da plebe servirá para os proteger da ira da mesma.
Em conclusão, julgo que lhes deveríamos responder da seguinte forma: se o património e o rendimento que possuem vos atormenta assim tanto, a solução é simples: realizem um donativo ao estado norte-americano: aqui!
Será como ir ao confessionário da igreja católica, depois deste donativo, este género de frustrações, que tanto os aflige – do tipo, tributem-nos por favor –, irá seguramente desaparecer, evitando que entrem em desespero existencial.
Isso, certamente, é algo que não desejamos.