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Bolsa de Valores: Risco à Vista?

Claramente existe uma cada vez menor intervenção humana, permitindo aos algoritmos reagirem, sem intervenção humana, em alta velocidade.

Se era necessário mais uma prova de que os mercados estão mais perigosos com o HFT (trading de alta velocidade), a seguinte imagem demonstra claramente que é preciso cada vez menos tempo para os mercados operarem correcções de 10%. Porquê?

Bolsa de Valores: Risco à Vista?

Mas estes factos, por si, não são a situação mais perigosa. Verdadeiramente perigoso é a liquidez fictícia existente criada por máquinas que respondem a situações previamente conhecidas e que são incapazes de reagir de forma diferente perante eventos desconhecidos.

Existem algoritmos com base em análise técnica, outros baseados em notícias, outros com modelos muito mais complexos, incluindo a física quântica. O objectivo desses algoritmos é sempre o mesmo: reagir rapidamente, de preferência sendo mais rápido que os outros uns…nanossegundos.

Assim, a primeira regra é estar do lado certo da micro tendência, ou seja, se a tendência é compradora, os algoritmos estarão a comprar, mas se esta se alterar, e passar a vendedora, os algoritmos passam a vendedores no mercado.

Todos estes maravilhosos programas algorítmicos darão uma resposta coerente 99% das vezes, mas o problema pode estar no outro 1%. Isso mesmo está extraordinariamente explicado nos livros de Nassim TalebBlack Swan e Fooled by Randomness.

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O autor demonstra que é impossível prever determinados acontecimentos, sendo necessário construir soluções robustas que protejam de acontecimentos negativos, mas, ao mesmo tempo, reconhecendo que existem situações que beneficiam de choques anormais, literalmente ganhando vida e crescendo desmesuradamente com o aumento da volatilidade.

O paradigma da organização, previsão e programação de processos ao pormenor será talvez a NASA. Foram capazes de levar o homem à Lua uma vez e foram capazes, graças a esses mesmos atributos, de resgatar a tripulação da Apollo 13, facto que ficou documentado em filme.

Os seus manuais de procedimentos estão detalhados ao pormenor, as rotinas são testadas individualmente e em conjunto; tudo é verificado até não haver falhas e, mesmo assim, a NASA tem um respeitável histórico de acidentes.

Porquê? Existe risco e o risco simplesmente não pode ser eliminado, só pode ser transferido.

O mesmo se passa nos mercados. A cultura existente, de constante inclusão de garantias de mecanismos de controlo fictícios, está a adulterar a noção de risco e a tornar mais perigosos os mercados financeiros. A sua permanente data-optimização e algo-optimização está a potenciar o risco em situações de ‘’Black Swan’’.

Imagine ‘’o dia D’’, o famoso 6 de Junho de 1944. A invasão da Normandia foi cuidadosamente preparada e planeada pelos Aliados, com todos os meios e tecnologia existente à época.

Análises estratégicas foram avaliadas durante meses; e a constante conclusão de que seriam necessários pilotos especiais capazes de no momento ajustarem os seus planos face a realidades não previstas.

  • Os mercados, nos últimos 12 anos, tornaram-se anormalmente previsíveis, por via de uma pressão compradora adulterada. Os mercados são o local em que se encontra a oferta e a procura. Se a procura estiver sempre a nascer pela permanente injecção de liquidez dos bancos centrais, os mercados só podem ter um sentido….a subida, com excepção das situações anormais.

Os algoritmos têm por base aquilo que os psicólogos designam por pensamento ‘’convergente’’, o mesmo que é utilizado na matemática e nas ciências, ou seja, o lógico. Aquilo em que a maioria dos algoritmos está agora a aperfeiçoar tem por base o que se designa por pensamento ‘’divergente’’, em que os ‘’worflows’’ exploram diferentes possibilidades, optando por uma em função do contexto.

Perante uma situação análoga, antes da existência dos algoritmos, os mercados teriam reagido muito provavelmente da mesma maneira, mas teriam sido mais lentos no tempo e na amplitude do movimento. Por esta razão aquilo que se pode esperar na próxima crise é que um movimento de 10%, ou mais, levará menos de 6 dias, o record actual.

  • Imagino que alguém já estará a dizer que em 1987, em um só dia, o mercado perdeu mais de 20%: a famosa Segunda-Feira negra. Na realidade não me esqueci desse dia, o dia em que houve demasiados vendedores no mercado e este foi tomado pelo medo. Em 1987 estávamos no início da digitalização dos mercados, com aquilo que se designava por ‘’basket trading’’ ou ‘’program trading’’.

Eram ordens informáticas de conjuntos de 15 ou mais títulos dadas em simultâneo. O conjunto destas ordens acentuou o crash de 1987 e desde então foram instituídos ‘’circuit breakers’’ que simplesmente cortam o acesso quando ultrapassam percentagens de variação estabelecidas.

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Como seres humanos, tomamos geralmente decisões absolutamente terríveis quando dominados pelo medo.

O Corona vírus é um bom exemplo, primeiro foi totalmente menosprezado e depois foi responsável por situações de descontrolo emocional.

Mas voltemos aos mercados. Nos últimos 12 anos a estratégia correcta tem sido ‘’buy the dip’’, ou seja toda e qualquer correcção tem sido uma oportunidade para comprar o mercado. A actual correcção será provavelmente uma oportunidade mais, mas isso não elimina o risco crescente que existe nesta corrida para zero que está a ser praticada com o HFT.  Mas o mercado não vê o problema desta maneira e compreende-se: faz parte da natureza humana.

A confiança de um patinador num rio gelado é tanto maior quanto o numero de pessoas que aí patinam e a sua confiança aumenta à medida que mais pessoas se juntam para patinar, mas na realidade quanto maior é o numero de patinadores maior é o risco de o gelo quebrar e haver um acidente.

Nunca, como agora, foi tão notória esta mentalidade de rebanho nos mercados, com base nesta falsa confiança criada pelos bancos centrais e a liquidez prometida aos mercados.