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ONDE FALAMOS DE BOLSA
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Como o Mundo Mudou!

  • Como O Mundo Mudou!

Temos estado todos muito preocupados com a Covid-19, mas, esta semana em que se começou a vacinar a população no Reino Unido e a discutir o plano de vacinação em Portugal, já se pode constatar que as televisões comentam outros temas, nomeadamente dos auxílios económicos às empresas, “da bazuca europeia”, as eleições presidenciais e o botão de pânico no SEF.

Não sei se já não interessa verdadeiramente aos media repetir a mesma contagem de mortos e contaminados dos últimos 9 meses, ou se outro motivo os fez mudar o guião, mas o certo é que ficamos todos mais aliviados e agradecidos.

Quem não está mais aliviada é a economia, mas é aqui que se pretende fazer crer que o mundo mudou, e em rigor existem diferenças.

Na crise anterior o guião era o seguinte:

  • As taxas da dívida pública subiam, vinha uma agência de rating e baixava a nota da dívida soberana do país;
  • Como consequência, as taxas de juro subiam mais;
  • Seguidamente, os governos desdobravam-se em declarações, tentando evitar o agravamento da crise e juravam que tudo estava bem, que não ia ser necessário recorrer a ajudas externas nem tão pouco ao FMI;
  • Com o efeito da propaganda, as taxas de juro nuns dias subiam e noutros desciam um bocadinho, para se constatar que, afinal, subiam um pouco mais. Em paralelo, os acólitos do poder lançavam vitupérios aos “malditos mercados” – só são bons quando o dinheiro jorra gratuitamente;
  • Num fim-de-semana, tínhamos um primeiro-ministro a dizer-nos que não ia pedir auxílio; no seguinte, tínhamos o auxílio devidamente negociado, para posteriormente ser anunciado como fantástico e obra da solidariedade entre estados e instituições internacionais.

Este guião foi utilizado para a Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha; chegou a ameaçar a Bélgica, não se sabendo em que país iria parar. Mas parou!

Parou apenas para os países do sul da Europa e Irlanda; em consequência, daí adiante, ficaram identificados apenas pela sigla PIGS.

Na realidade, quase todos os países padeciam e padecem da mesma doença: o excesso de endividamento. Mas o que é facto é que parou nos PIGS e ainda bem que assim foi, atendendo que os mecanismos de resgate não estão preparados para resgatar todos os países ao mesmo tempo.

De onde viria o dinheiro para isso?

É como o fundo de garantia de depósitos que está preparado para garantir a falência de um ou outro banco isolado, mas não está preparado para garantir a queda de todos os bancos.

Desde a última crise ficou-se a saber que quem tem dinheiro para resolver estes problemas são os bancos centrais. Perceberam que o sistema financeiro mundial utiliza as dívidas soberanas como reservas bancárias e base monetária, e que mantendo isso em equilíbrio não deveria haver problema.

Tudo funciona na base da confiança e os bancos centrais perceberam que essa confiança pode ser ajudada para não afectar a confiança global, manipulando as taxas de juro e comprando dívida pública com dinheiro criado do nada.

E assim o mundo mudou. Agora, o Guião agora é diferente:

  • O vírus avança, confina-se a população e os juros da dívida pública baixam;
  • Os governos desdobram-se em declarações, tentando evitar o agravamento da crise, garantindo a chegada de fundos para lay-offs, para o pagamento de rendas e outros subsídios, tentando evitar o agravamento da crise e jurando que tudo vai ficar bem com a chegada da ‘’bazuca europeia’’;
  • Em paralelo, o custo da dívida pública desce ainda mais;
  • A economia está estagnada, as pessoas confinadas e os bancos concedem moratórias para os financiamentos daqueles que não podem pagar, mas em vez da chegada do FMI, como na crise anterior, em vez das agências de rating virem dizer que o sistema bancário está em dificuldades, os países Europeus vão receber dinheiro “grátis”;
  • Os juros da dívida pública baixam ainda mais!

Parece que o mundo mudou ao eliminar o problema do dinheiro. Seria bom que assim fosse, porque o dinheiro capacita, mas também limita:

  • os remediados em teletrabalho;
  • os pobres sem trabalho;
  • os “ricos” em teletrabalho a partir da sua segunda habitação;
  • os pobres sem pagar a renda ao senhorio ou ao banco (empréstimo da habitação).

O dinheiro tem a particularidade de funcionar na base da confiança para funcionar correctamente, e não tem mais nada em consideração. É um conceito simples.

Se algo não gera confiança é porque gera desconfiança e imagino que fechar a população produtiva, para alegadamente proteger a população não produtiva (os idosos), seja gerador de desconfiança para o dinheiro.

Mas o dinheiro é também aquilo que define o relacionamento entre pessoas ou países: um manda o outro obedece, um deve o outro é credor.

Natural portanto que Portugal tenha que obedecer, porque recebe e é devedor e não um dos países credores.

Só que o que se está a criar é divida disfarçada de dinheiro, e a dívida está a enfraquecer a democracia. Dívida não é riqueza.

O endividamento significa pedir emprestado à prosperidade futura para consumir hoje. É o oposto de riqueza.

Entendo que é muito difícil manter a clareza de espírito, quando o que está em causa é saber se o dinheiro chega para resolver o problema imediato. A maioria de nós passou a estar tão sobrecarregado com as nossas próprias responsabilidades, que a vida ficou tomada pela política, numa democracia condicionada pelo endividamento.

Esta influência política é uma tendência que vem de trás e que se tem acentuado em detrimento da liberdade.

Fomos evoluindo para uma sociedade que deixou de tolerar a existência do erro, do risco e do mal e passou a procurar uma certa segurança com a “garantia” do Estado que em caso algum se pode recusar.

Protecção contra as drogas, o tabaco, o álcool, os cintos de segurança, a idade dos carros, os seguros obrigatórios, a segurança no trabalho, a segurança social, para nos proteger do desemprego e da doença, a polícia municipal, a de segurança pública, a judiciária, a secreta, a polícia fiscal, a ASAE, os ‘whistleblowers’, o INEM, os bombeiros, os fiscais, os reguladores, a autoridade para a protecção civil, as outras autoridades de protecção e também a DGS com máscaras e distanciamento social ou ainda limite de circulação.

Agora para entrar num restaurante medem-nos a temperatura. Existe indiscutivelmente uma cumplicidade mesmo que involuntária na opressão exercida pelo Estado.

Qualquer cidadão que se pretenda livre, ou seja, não cumprindo com a civilidade vigente, é considerado um delinquente em potência, porque o Estado tomou a si como propósito criar uma tipificada forma de estar.

Quem não cumpre essa dita civilidade sofre repressão.

A busca da felicidade deixou de ser tarefa do domínio individual para passar a ser domínio estatal.

Maior é a dependência do Estado, maior é a legitimidade da actuação da classe política.

Resultado, a concepção política dominante passou a ser: cabe ao Estado resolver todos os nossos problemas. O curioso é que o mesmo se passa entre estados na Europa.

Portugal assume que cabe à Europa resolver os nossos problemas.

Um país tomado pela política, quando se está em democracia, é uma coisa subtil; porque a democracia é supostamente sinónimo de liberdade. Ora a política em democracia e o seu desígnio, que é o poder, tem actualmente a ver com tudo menos com liberdade.

A esquerda abandonou a liberdade como projecto; a direita abandonou a liberdade como tradição.

São agora poucos os que preferem a liberdade, em detrimento dos muitos que preferem a submissão ao mundo como ele está, pelo que será bom recordar Benjamin Franklin que disse: “Aqueles que abdicam de liberdades essenciais em troca de um pouco de segurança temporária não merecem nem a liberdade nem a segurança”.