Loading...

Blog

ONDE FALAMOS DE BOLSA
Home / Blog

Investir em Bolsa: Como Detectar Oportunidades?

Os principiantes em bolsa iniciam-se neste mundo por várias razões. A necessidade de rendibilizar as poupanças, em particular no momento de taxas de juro nulas, ou mesmo negativas, que retiram qualquer atractividade aos produtos tradicionais – depósitos, títulos de aforro -, tem criado novos investidores todos os dias.

Muitos destes investidores despertam para este mundo através da leitura de notícias dedicadas aos mercados e à economia; muitas vezes, julgam-se possuidores de um profundo conhecimento sobre uma determinada empresa, apenas porque se habituaram a ler notícias sobre a mesma: anúncio de dividendos, entrada em novos mercados, resultados trimestrais ou mesmo notícias sobre o CEO.

No momento da verdade, quando questionados sobre determinados indicadores, tais como, PER, lucro por acção, solvabilidade ou nível de endividamento em relação a essa empresa ficam estupefactos; nesse momento, dão-se conta que simplesmente não estão preparados para compreender tais indicadores, nem tão pouco compará-los com empresas do mesmo sector: aquilo que designamos por análise fundamental e de múltiplos.

Para a realizar somos obrigados a possuir competências específicas, tais como a leitura de um balanço e de uma conta de resultados, entre outras.

O leitor não tem que se preocupar; passei muitos anos em tais tarefas e de nada me serviu. Posso assegurar-lhe que em face do actual momento dos mercados financeiros de nada nos serve para obtermos sucesso em bolsa.

Hoje, vemos empresas com permanentes prejuízos ou lucros insignificantes com valorizações estratosféricas.

A Tesla é um destes casos, no entanto, no momento em que lhe escrevo, os valores desta empresa são os seguintes (fonte Reuters):

  • (i) capitalização bolsista de 400 mil milhões de USD;
  • (ii) PER de 1103.

Para ter uma ideia, o PER compara o preço por acção com o lucro por acção. Em linhas gerais, em momentos ascendentes da bolsa este valor situa-se entre 20-25 e momentos do mercado com tendência descendente entre 10-15, ou mesmo 7-10.

Pelos valores pode imaginar a bolha que vivemos no presente momento!

Tal limitação não nos obriga a desistir, nem significa não ter sucesso em bolsa; no entanto, investir em algo pela simples razão de nos sentirmos familiarizados, em particular decorrente da leitura de notícias, pode tornar-se em algo desastroso, ou mesmo uma verdadeira história de terror.

Em Portugal, existe um exemplo paradigmático desta situação: o Banco Comercial Português (BCP).

O gráfico na Figura 1 é auto-explicativo. Há 20 anos que o preço não cessa de cair, apesar da recuperação e inversão de tendência entre 2003 e 2007.

Apesar da evidência do gráfico, qual a razão para a existência de tantos investidores que acreditam nas histórias da “Alice no país das maravilhas”: vai recuperar; agora está barato, já não cai mais; o que tinha para corrigir, já corrigiu…

Figura 1

O problema desta análise é o seguinte.

Quando o preço caiu de 20 Euros para 5 Euros, entre 2000 e 2003, representando uma queda em torno de 75%, a recuperação para os 20 Euros obrigaria a uma subida de 300%, algo que o índice S&P 500 levou cerca de 10 anos a realizar, depois da crise financeira de 2008.

No final de 2019, fechou a cotar a 0,2028 Euros por acção, uma perda de 99% em relação ao ano 2000, quando cotava nos 20 Euros; para recuperar, teria de subir 9800% aproximadamente!

Mas vamos analisar o presente ano.

A cotação no final de Setembro de 2020 fechou nos 0,0803 euros por acção, uma perda de 60% em relação ao fecho de 2019; para recuperar, o preço da acção do BCP teria de subir 153%; e para recuperar os valores de 2000 (20 Euros por acção), a subida teria de ser de 24 800%!

Insistir em posições longas num título de tendência descendente pode tornar-se num autêntico filme de terror!

Em relação às posições curtas, o BCP é seguramente um dos títulos preferidos destes investidores: todos os anos, invariavelmente, obtêm retornos elevados, suculentos e fantásticos. Nunca falha!

No presente momento, apenas duas questões já nos restam:

  • (i) quando irá ocorrer o próximo aumento de capital?
  • (ii) a queda irá parar?

Não sabemos as respostas, mas a evolução da cotação no presente ano não augura nada de bom.

Perguntará então o leitor, como seleccionar valores?

Como investir em bolsa através de uma selecção criteriosa de títulos, tanto para posições longas como curtas?

Em primeiro lugar, o leitor deverá estar consciente que não vivemos tempos normais.

Os mercados financeiros estão manipulados pelos bancos centrais. Taxas de juro de 0%, ou negativas, com estímulos monetários incessantes, crescentemente pornográficos – agora é aos 2 e 3 biliões de USD/EUR de cada vez-, eliminam por completo o processo de descoberta de preço, tal como o conhecíamos; ou seja, os investidores procuravam estimar os lucros futuros da empresa para decidir uma proposta de compra ou venda.

Agora, os bancos centrais são autênticos jogadores de monopólio.

Com dinheiro infinito, colocam pressão compradora naquilo que entendem, seja dívida emitida pelos estados – os afamados “Quantitative Easing” -, seja dívida emitida pelas empresas, sejam acções de empresas, através de ETFs ou directamente.

Todos os activos podem estar sujeitos à pressão compradora dos bancos centrais, criando uma procura infinita que pode levar a que “todo o papel”, talvez um dia, termine nas suas mãos. Até um dia destes podem comprar acções do BCP! Ninguém sabe.

Para investir na bolsa com sucesso temos de nos limitar a seguir o rebanho. Não vale a pena ter razão antes do tempo, ou filosofar sobre o valor potencial de determinada empresa.

Estamos como espectadores numa sala de cinema. O leitor sabe que atrás de si encontra-se a saída de emergência. Apenas o leitor; os demais julgam que se encontra à sua frente.

Se ocorrer um incêndio, apesar de ter razão, irá certamente ser esmagado pela multidão em pânico – no mercado é exactamente o mesmo.

Podemos ter a convicção que esta bolha irá rebentar um dia, mas se remarmos contra a corrente antes do tempo, a morte por afogamento é altamente provável. Então como seleccionar valores, sem olhar a infindáveis indicadores, múltiplos, conta de resultados?

O método que proponho é simples. Em primeiro lugar, devemos apenas negociar valores que nos assegurem uma elevada liquidez: o que significa?

Se eu necessitar de sair da posição, existe sempre uma contraparte que me irá assegurar um bom preço e uma saída rápida.

Assim, vamos supor que apenas seleccionamos acções de empresas europeias e norte-americanas que possuem à data de 29 de Setembro de 2020 uma capitalização bolsista igual ou superior a 10 mil milhões de €. Aplica este filtro, obtemos 537 empresas, tal como podemos observar na Figura 2.

Como seria de esperar, a grande maioria encontra-se nos Estados Unidos, representando 70% do total.

Figura 2

Seguidamente, aplicamos outro filtro, por forma a detectar tendências ascendentes e descendentes.

Assim, no caso de tendências ascendentes, duas condições são essenciais:

  • (i) Média Móvel de 10 dias superior à Média Móvel de 50 dias;
  • (ii) Média Móvel de 50 dias superior à Média Móvel de 200 dias.

O resultado permite seleccionar 189 empresas; ou seja, à primeira vista, encontram-se numa clara tendência ascendente, no entanto, irá obrigar-nos a filtros adicionais e a realizar uma análise gráfica.

Para finalizarmos, vamos agrupar estas empresas por sector de actividade, ordenando no sentido decrescente pela média do indicador ADX (30 dias). Este indicador que leitura nos proporciona?

É igual à subida ou descida de uma montanha por um ciclista. Se a etapa é constituída apenas por subidas crescentemente inclinadas: o indicador ADX sobe.

Se a etapa é constituída maioritariamente por descidas: o indicador ADX sobe. É indiferente o sentido, ascendente ou descendente; o importante é a existência de uma forte tendência.

Encontrar estes valores é a poção mágica de muitos investidores: a ideia é juntarmo-nos ao rebanho e subir ou descer com o grupo.

Na Figura 3, podemos observar que os sectores da Energia e Indústria são aqueles cujas empresas em média possuem o ADX mais elevado e com tendência ascendente.

Figura 3

De que empresas estamos a falar, em particular do sector energético?

Em primeiro lugar, temos a Vestas Wind Systems da Dinamarca, com uma rendibilidade acumulada no presente ano de 49% (final de 2019 e sessão de 29 de Setembro). Trata-se de uma empresa que se dedica à produção de equipamentos para centrais eólicas – energias renováveis.

Em segundo lugar, a Neste Oyj da Finlândia, com uma subida igualmente de 49%; dedica-se a produzir energia renovável.

Por fim, a Siemens Gamesa Renewable Energy da nossa vizinha Espanha, com uma subida de 46%, igualmente dedicada às energias renováveis.

Vamos agora analisar os gráficos.

A Vestas apresenta uma tendência ascendente desde o início de 2013 (ver Figura 4). Em Julho de 2020 rompeu uma resistência muito importante, na região das 700 DKK por acção, o anterior máximo histórico.

Estes máximos ocorreram em Julho e Agosto de 2008, voltando a funcionar como resistência de Novembro 2019 a Junho de 2020.

A empresa encontra-se claramente em tendência ascendente, valorizando-se 120% desde os mínimos de Março a Setembro do presente ano.

O “novo normal” está a beneficiar as empresas deste sector: energia renováveis.

Figura 4

Em relação à Gamesa, ver Figura 5, a mesma está a negociar em tendência descendente desde Novembro de 2007.

Em Julho de 2020 rompeu uma região de resistência nos 16,20 Euros por acção. Esta região coincide com os máximos de 2009, resistência em Julho de 2015, Maio de 2019 e Fevereiro de 2020. Este movimento ascendente colocou um fim à anterior tendência iniciada em Novembro de 2007.

Recentemente, num forte movimento de pressão compradora, a acção está a negociar em máximos desde 2007.

Figura 5

Vamos agora analisar uma empresa do sector industrial, a segunda com o ADX mais elevado, ou seja, com a tendência mais acentuada.

Neste caso, a segunda com o valor ADX mais elevado: a dinamarquesa DSV Panalpina, uma empresa de soluções de logística. No presente ano subiu 38%.

Vamos agora realizar uma análise gráfica.

A DSV Panalpina negoceia numa tendência ascendente desde Outubro de 2014, tal como podemos constatar na Figura 6.

No trágico mês de Março de 2020 fez mínimos na região dos 450 DKK (mínimos de 2019). Em nenhum momento perdeu a sua tendência ascendente.

Recentemente rompeu a região dos 800 DKK (anterior máximo, ocorrido em 2020). Desde mínimos de Março deste ano até ao final de Setembro valorizou 140%.

Figura 6

Para detectar empresas com tendência descendente, utilizamos duas condições como filtro:

  • (i) Média Móvel de 10 dias inferior à Média Móvel de 50 dias;
  • (ii) Média Móvel de 50 dias inferior à Média Móvel de 200 dias.

O resultado permite seleccionar 113 empresas, tal como podemos observar na Figura 7.

Neste caso, o sector com maior tendência descendente é o das Telecomunicações.

Figura 7

Uma das empresas que apresenta maior tendência descendente é a britânica Vodafone do sector das Telecomunicações; no presente ano a sua cotação caiu 28% – até à sessão de 29 de Setembro.

Na Figura 8 podemos observar a evolução da cotação para os últimos 20 anos.

Após mínimos de Agosto de 2002, a acção negociou numa tendência ascendente até ao final de 2017.

Nesse período, a acção perdeu o seu patamar de suporte em torno dos 200 cêntimos GBP, sendo o fim da sua tendência ascendente.

Após a quebra da região de suporte dos 200 GBP, a acção deu continuidade a uma tendência descendente iniciada a Dezembro de 2017.

Actualmente, negoceia em forte tendência descendente, após perder os 150 cêntimos GBP (em mínimos desde 2002), e está a cotar na região dos 100 cêntimos GBP; o próximo patamar da tendência descendente será os 80 cêntimos GBP.

Figura 8

A segunda empresa com uma tendência descendente acentuada é a espanhola Telefónica, igualmente do sector das Telecomunicações. No presente ano, a Telefónica caiu em bolsa 50% – até à sessão de 29 de Setembro.

Na Figura 9, podemos observar a evolução da cotação entre 1995 e 2020. Ao longo deste período existiu uma região chave que serviu de suporte, em torno aos 7,50 Euros por acção.

Efectivamente, funcionou como patamar de suporte em Outubro de 1998, Setembro de 2020, Julho de 2012, Junho de 2016 e Novembro de 2016.

No entanto, em Maio de 2018, a acção rompeu no sentido descendente esse suporte, algo que nunca tinha ocorrido desde 1998.

Actualmente, os 7,50 Euros passaram a funcionar como resistência e, desde então, agora a cotação segue em queda livre, sem a existência de patamares de suporte relevantes, até mínimos históricos nos 1,18 Euros por acção.

Figura 9

Em conclusão, investir em bolsa implica detectar empresas com tendência, seja ascendente ou descendente.

Seguidamente, importa ter conhecimentos de Análise Técnica, algo acessível através de um programa de formação.

Desta forma, o leitor poderá realizar uma análise gráfica em detalhe, determinando pontos de entrada e de saída, bem como o montante a investir por posição, de acordo com o capital investido.

Está ao seu alcance, não é assim tão difícil estimado leitor; mas, por favor, não decida os seus investimentos com base em notícias ou no “já subiu muito” ou já desceu muito”: regra geral, tal método não apresenta resultados.

Veja também: