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ONDE FALAMOS DE BOLSA
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Espanha, o PIB e a governanta

“Abróchense los cinturones de seguridad” diz-nos a hospedeira da Iberia. Estamos a chegar a Madrid. Como habitualmente na aproximação ao aeroporto de Barajas, da pequena vigia do lugar 14-A chamam-me a atenção as múltiplas formações geométricas resultantes dos bem tratados campos agrícolas. O curioso é que, se fizer o caminho por estrada, o que acontece por vezes, não sou impressionado pela paisagem e quando no avião, fico sempre fascinado. Uns rectângulos mais verdes outros amarelos, alguns círculos verdejantes que imagino debaixo de um pivô de rega que não consigo ver do alto. A terra muito bem tratada ou, deveria dizer, bem lavrada, porque não se vê a habitual desorganização da natureza no seu estado mais puro. Continuo vendo a ondulação das colinas, poucas árvores, algumas casas, nenhumas aldeias.

Não consigo impedir-me de conjecturar o que farão as pessoas lá em baixo? Agricultura certamente, mas não vejo ninguém. Apenas pontinhos que correspondem a carros que circulam nas vias rápidas. Como farão para cultivarem estes campos tão bem tratados? Não posso imaginar que fiquem em pensões perto das terras que trabalham. Vão para suas casas no fim da jornada e farão a ”movida” antes de deitar? Ganham bem, são cultos, estudaram agronomia, têm certezas sobre o futuro da indústria alimentar? O que cultivam aqui? Como são os sistemas de irrigação que utilizam?

Espanha tem muito espaço pouco habitado e muita mais gente que Portugal. Na realidade, só Madrid, já tem mais de metade da população portuguesa, não admira, pois, que as suas industria e comércio sejam bem mais fortes que as nossas.

Sempre que chego a Madrid ocorre-me que o País tem uma taxa de desemprego de 20% e que quem está desempregado não pode pensar em investir, um dado sempre preocupante para quem está numa actividade ligada à poupança e ao investimento como a DIF Broker. Aponto no meu bloco-notas que tenho que perguntar qual a percentagem de casas que está a ser retomada pelos bancos este ano em comparação com o ano passado e qual é o numero dos empréstimos que estão em incumprimento. Saber também se aumentou em relação ao ano passado. Veremos como está a tendência e sobretudo veremos se estamos a sair do problema ou ainda a entrar nele. Talvez isso não ocorra à grande maioria das pessoas mas, normalmente, quem está desempregado não tem meios para pagar a amortização e encargos da casa comprada.

Por aquilo que conheço da Espanha nos últimos 5 anos sei que as pessoas não tinham consciência do perigo de uma economia inflacionada pelo imobiliário e em consequência os desprovidos de poupanças não podem fazer face a qualquer tipo de emergência.

Chegado ao escritório peço a um ‘’becário’’ que me obtenha e faça chegar os dados que tinha apontado e imediatamente ele me diz que o PIB espanhol vai baixar 0.4% em 2010. O estagiário quer mostrar serviço. Pergunto-lhe se me sabe explicar rapidamente o que é o PIB? Sabia, mas a explicação foi muito técnica e assim se confirmava que tinha acabado de sair da universidade. O que eu pretendia era uma resposta simples, prática, objectiva e expliquei-lhe que, simplesmente, o PIB media aquilo que as pessoas pagam. Se cortamos a relva no nosso jardim o PIB não é afectado mas se pagamos a um emigrante mesmo, que ilegal, para o fazer o PIB sobe. Se um senhor velho e solteiro paga a uma governanta para tratar dele o PIB sobe mas se decide casar com a governanta e deixar de lhe pagar o PIB desce. O comerciante na Cantábria que perdeu tudo nas últimas inundações e teve que ir ao banco pedir dinheiro para recomeçar a sua actividade fez subir o PIB. O que queria que ele entendesse resultou porque imediatamente me disse que, visto dessa maneira, o PIB não era assim tão importante.