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ONDE FALAMOS DE BOLSA
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Agencias de rating o escandalo financeiro da década

O “rating” de Portugal baixou. Quem teve poder para isso foi a Fitch que o passou de AA+ para AA-. Através do seu responsável para os Mercados Emergentes, a Fitch afirmara recentemente que a comparação entre Portugal e a Grécia era demasiado simplista e o “rating” de Portugal significativamente superior.

As grandes agências de “rating” são americanas mas a Fitch é controlada pelos franceses da Fimalac.

As agências de “rating” já ameaçaram os Estados Unidos, como o fizeram com Portugal e outros países da Europa, mas com os EUA vão ficar só pelos ameaços. O que as agências de “rating” pedem aos Estados Unidos é o mesmo que pedem a Portugal, ou seja, que gastem menos. Imagino que os países que compram a incessantemente crescente divida americana, e assim se tornam seus credores, também devem querer que os Estados Unidos gastem menos. A pergunta que fica é: porque é que então os Estados Unidos não gastam menos e ao contrário cada vez gastam mais?

Como cidadão responsável, gostaria de não ter que ver uma baixa no “rating” dos Estados Unidos porque isso traria certamente o caos aos mercados financeiros. Os EUA são o maior devedor do mundo. Devem, inclusive, mais que todos os outros países juntos. Os impactos colaterais são incalculáveis, talvez o fim do mundo como o conhecemos, mas estar dependentes das agências de rating… A notoriedade e relevância das agências de “rating” é totalmente imerecida, pelo que não é uma questão de regulamentação que pode resolver o problema, dado que é todo o modelo de negócio que é malicioso muitos dirão corrupto.

Os escândalos começaram no início do milénio com a Enron, a empresa que a revista “Fortune” apelidou de “a companhia americana mais inovadora”, durante seis anos consecutivos. Em 2000, cotava a 84 dólares, e um ano depois estava a 26 cêntimos. Foi à época a maior falência da história da América com activos de 65 mil milhões. As agências de “rating” foram acusadas de serem muito lentas a actuar, porque só o fizeram no último mês de vida da empresa, tendo argumentado com o factor “prudência”.

E foram-no em 2002 quando se deu o caso Worldcom, a segunda maior empresa de telecomunicações dos Estados Unidos. Em Abril, as agências de “rating” começaram a falar; em Maio, começaram a baixar o “rating”; em Julho, estava falida. Estava batido o recorde da maior falência da história com 104 mil milhões de activos.

Ainda em 2002, as agências de “rating” fizeram uma alteração aos seus conceitos-base, que se tornou muito importante na análise aos bancos. Passou a ser considerado como valor para os bancos a noção de que os governos e os bancos centrais  (com a designação de intervenção externa)  não poderiam deixar cair os bancos mais importantes. Nesta peugada, os bancos dos diferentes países viram o seu “rating” melhorado.

Nem tudo o que fizeram foi errado, porque, neste ponto, como se sabe estiveram absolutamente certas, houve efectivamente intervenção dos Governos. Onde estiveram erradas foi ao não terem previsto que alguns bancos poderiam vir a ser maiores que os bancos centrais dos respectivos países. Tal resultou na falência, por exemplo, do Banco Kaupthing Islandês, que era bem maior que o Banco Central da Islândia. Não serviu de nada o Kaupthing ter o maior “rating” possível AAA, a falência foi o caminho.

2003 foi o ano em que as agências de “rating” descobriram a verdadeira mina que era o “subprime”, ao colocar o seu selo de “aprovado”,  enquanto transformavam produtos financeiros medíocres em produtos AAA. O prémio Nobel Joseph Stiglitz, professor na Universidade da Columbia, chegou a afirmar que via as agências de “rating” como o factor principal da crise produzindo a alquimia necessária para transformar produtos de investimento modestos em produtos de “qualidade”. Segundo ele, os bancos não poderiam ter feito o que fizeram sem a cumplicidade das agências de “rating”.”

Poderíamos falar da Fannie Mae, da Freddy Mack, empresas que segundo a Reserva Federal estavam bem capitalizadas em Julho de 2008 e ‘’nacionalizadas’’ a 8 de Setembro, mês e meio depois. A seguradora AIG foi o episódio seguinte.

Não deixa de ser surpreendente que depois de mais de dois anos a tentar encontrar remédios para a crise em que vivemos nada ainda tenha acontecido a estas empresas de “rating”. Não deixa de ser surpreendente que desde o início do ano retomem um protagonismo despudorado com incidência na divida soberana Europeia.

A pergunta que se deve fazer, creio, é simples: estamos todos preparados para o futuro que nos espera sem o contributo das agências de “rating”, ou seremos complacentes o suficiente para continuar a ser vítimas de sociedades de “rating”, que vivem de um estatuto que claramente não merecem, independentemente do que nos possam dizer?  05