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Forex Trading: A História Desconhecida da Prata (XAGUSD)

  • Forex Trading: A História Desconhecida da Prata (XAGUSD)

A 15 de Agosto de 1971, o presidente Nixon, então presidente dos Estados Unidos, colocou um ponto final no sistema monetário criado em Bretton Woods no final da segunda guerra mundial. O papel do Ouro como moeda da humanidade, durante mais de 5 mil anos, tinha terminado com esta decisão.

Por outro lado, em 1965, a maior potência económica do século XX, o EUA, tinha deixado de cunhar moedas de Prata, pondo fim à sua utilização pelos cidadãos norte-americanos.

Esta decisão, do presidente Lyndon Baines Johnson, tinha como objectivo evitar o açambarcamento de moedas por parte dos cidadãos norte-americanos! – Coinage Act de 1965.

Os estados nunca gostam dos cidadãos que se apercebem do confisco que constitui a inflação!

Com o fim do Sistema de Bretton Woods, iniciou-se o mercado de Forex (Forex: O que é? Como funciona?), onde todas as divisas deixaram de ter qualquer ligação aos metais preciosos e passaram a ser negociadas livremente, através de pares cambiais.

Como funciona? Vamos ver alguns exemplos:

  • GBPUSD: cada par tem três letras; o par esquerdo, neste caso, o GBP, refere-se à Libra Esterlina, em que as duas primeiras letras referem-se ao país – Great Britain -, e a terceira ao nome da moeda – Pound; o par direito é o USD, ou seja, o United States Dollar. A moeda negociada é o par esquerdo e a cotação da mesma é o par direito, neste caso, a Libra Esterlina está cotada em USD;
  • XAUUSD: neste caso, o par esquerdo é o Ouro (XAU), que corresponde a 1 onça (equivalente 31,1034 gramas aproximadamente) de Ouro cotada em USD; ou seja, se estiver a cotar a 1750 (bid)/1751 (ask), significa que o melhor comprador está disponível a adquirir uma onça de Ouro por 1750 USD, enquanto que o melhor vendedor aceita vender uma onça de Ouro por 1 751 USD;
  • XAGUSD: neste caso, o par esquerdo é a Prata (XAG), que corresponde a 1 onça (equivalente 31,1034 gramas aproximadamente) de Prata cotada em USD; ou seja, se estiver a cotar a 27,1 (bid)/27,2 (ask), significa que o melhor comprador está disponível a adquirir uma onça de Prata por 27,1 USD, enquanto que o melhor vendedor aceita vender uma onça de Prata por 27,2 USD;

O que aconteceu em 1971 tornou-se o sonho de qualquer político: inflação sem limites!

As promessas eleitorais, a despesa pública e as guerras intermináveis passaram a ser parcialmente pagas pela impressora do banco central. Em 2020, o governo dos EUA financiou maioritariamente o seu défice público através de inflação.

Eis a actual situação: necessitamos de dinheiro, põe as rotativas a funcionar!

Apesar da classe política e banqueiros centrais terem removido a última barreira à impressão de dinheiro sem limites, o Ouro e a Prata continuaram e continuam a ser vistos como moedas por parte dos investidores; além disso, permitem aquilatar a inflação existente no sistema. Senão vejamos.

Na Figura 1, podemos constatar que o índice bolsista sp500, medido em onças de ouro, tem o mesmo valor que tinha em 1970: aqui temos a ilusão da inflação!

Para quem segue os mercados financeiros, existe a plena percepção que os índices norte-americanos não param de se valorizar: mas, na verdade, é apenas uma ilusão monetária criada pelos bancos centrais.

Figura 1

A Prata não funciona da mesma forma, dado ter perdido durante o século XX a sua procura “monetária”. Durante os séculos anteriores, o rácio Ouro/Prata foi de 15; hoje, este rácio encontra-se em torno de 70.

Como podemos observar na Figura 2, a Prata (XAGUSD) registou um máximo histórico no longínquo 1980, durante o mês de Janeiro, quando os irmãos Hunt tentaram acumular toda a Prata que podiam adquirir.

Figura 2

A Prata regressou a esses níveis em 2012, quando o Banco Central norte-americano, a FED, estava a anunciar o seu terceiro programa de “Quantitative Easing” e decorria uma crise de dívida soberana, tanto na Europa – falências de Portugal, Grécia e Irlanda e ajudas à banca espanhola – como nos Estados Unidos, em que a Standard & Poors teve a ousadia de baixar a notação da dívida pública norte-americana.

Quando uma matéria-prima se torna uma moeda, como foi o caso do Ouro e da Prata ao longo da história da humanidade, sempre existe a propensão para se abusar de esquemas piramidais; porquê?

Ao longo da história, através da prática de reservas fraccionadas, os banqueiros conseguiram tirar proveito das características do Ouro e da Prata, através da concessão de crédito por emissão de moeda, em lugar de possuir o metal precioso em forma de depósito a prazo de outro cliente – definido como intermediação de poupança.

No fundo, trata-se de um método fraudulento, visando obter mais receitas, fruto de algumas particularidades associadas ao dinheiro.

Vou-me socorrer de um exemplo: o bengaleiro de uma discoteca – há quanto tempo não podemos ir a uma! Se os clientes de uma discoteca deixam os seus casacos no início da noite, em troca de uma ficha; é quase 100% seguro que os mesmos serão todos recolhidos ao final da noite.

Ou seja: os clientes voltam a entregar as fichas e a recolher os seus casacos. Tal não acontece com o dinheiro.

Os banqueiros cedo se aperceberam que os clientes não levantam os seus depósitos à ordem, apenas uma pequena percentagem o faz. Vamos imaginar que apenas 10% dos clientes converte o seu extracto ou notas em dinheiro no Banco A.

Vamos também supor, que devido ao prestígio atingido junto da comunidade, os clientes do Banco A, na sua grande maioria (90%), não convertem as suas notas ou extractos em dinheiro. Apercebendo-se de tal fenómeno, o Banco A pode fazer um negócio fantástico: imprimir dinheiro do nada!

Vamos supor que o Banco A tem nos seus cofres 1000 onças de ouro, que correspondem a depósitos à ordem dos seus clientes, 500 em notas emitidas e em circulação e 500 registadas nos extractos. Desta forma, poderá realizar empréstimos a empresários e consumidores por valor de 9000 onças. Como? – pergunta o leitor.

Simplesmente, o Banco A emite notas por contrapartida de um empréstimo.

Imaginemos o empresário X que chega ao balcão e necessita de um empréstimo de 50 onças de ouro. O Banco A aprova o crédito, mediante a entrega ao empresário de 50 notas. Agora, este empresário pode pagar a fornecedores e colaboradores com estas notas, pois toda a gente as aceita.

Como o Banco A actua em monopólio, estes fornecedores podem ir depositar estas notas no Banco A ou utilizá-las para realizar pagamentos, assim sucessivamente. Ou seja, o Banco A, caso tudo corra bem, pode obter as seguintes receitas:

  • Caso não utilizasse reservas fraccionadas: 5 onças de ouro por ano, correspondente a 1000 × 0,5% (guarda do dinheiro na caixa forte);
  • Caso utilize reservas fraccionadas: 725 onças de ouro, correspondente ao serviço de custódia (1000 × 0,5%) e dos empréstimos a partir de reservas fraccionadas (9000 × 8%= 720 onças).

Assim, este negócio é absolutamente extraordinário, atendendo que o banqueiro está a emprestar algo que não possui, abusando da confiança que os clientes depositaram na instituição.

Vamos agora imaginar que aparece um Banco B a realizar concorrência ao Banco A. Desta forma, abre as suas portas ao público e começa a captar depósitos, tanto à ordem como a prazo. Ao fim de três meses começa a atrair clientes e já tem 100 onças de ouro em depósitos à ordem e 50 notas do Banco A (cada nota corresponde a 1 onça).

Porque existem 50 notas do Banco A? Porque muitos clientes levam estas notas consigo e, ao abrirem uma conta, em lugar de depositar onças de ouro, simplesmente entregam notas do Banco A, pois toda a gente julga que as mesmas são convertíveis de imediato em ouro.

Vamos supor que, por agora, o Banco B decide não liquidar as notas do Banco A em sua posse, ou seja, entregar as notas em sua posse e exigir a entrega de 50 onças de ouro. O Banco B continua o ganhar quota de mercado e atinge depósitos valorizados em 1300 onças de ouro, uma parte correspondente a 1100 notas do Banco A e outra a 200 onças de ouro depositados na sua caixa forte (150 notas do Banco B emitidas e 50 registadas em extractos).

Devido ao elevado número de notas e proporção dos seus depósitos, decide, finalmente, solicitar a conversão das mesmas ao Banco A: já imaginou o que vai acontecer? Certo, o Banco A não irá conseguir cumprir com esta exigência, atendendo que não possui ouro suficiente para satisfazer esta liquidação. O Banco A corre o risco de insolvência, atendendo que não é capaz de respeitar algo sagrado: a recolha de uma nota por si emitida deverá corresponder à entrega imediata de uma onça de ouro.

Esta situação ocorre se o Banco B decide actuar de forma séria; no entanto, podia actuar da mesma forma que o Banco A, concedendo crédito a partir da emissão de notas sem contrapartida em ouro.

Vamos imaginar que decide embarcar nesta actividade, com os seguintes números:

  • (i) crédito concedido, através da emissão de notas sem contrapartida em ouro, 8000 notas do Banco B;
  • (ii) 1100 notas do Banco A; 200 onças em ouro.

Desta forma, é muito provável que os receptores das 8000 notas emitidas pelo Banco B tenham realizado pagamentos a particulares com uma conta no Banco A. Assim, vamos supor que o banco A recebeu 1050 notas do Banco B.

Agora, caso decidam acertar contas entre as duas instituições financeiras, o Banco B simplesmente tem de entregar 50 onças (1100-1050) de Ouro ao Banco A.

Em conclusão, se as duas instituições realizam esta actividade de forma coordenada, a sua situação de insolvência, não têm ouro correspondente ao valor emitido em extractos e notas emitidas, não será descoberta.

Num mercado concorrencial e de livre entrada é muito difícil assegurar que esta coordenação seja correctamente aplicada e seguida por todas as instituições bancárias, diria mais, impossível.

Para assegurar esta coordenação, os banqueiros inventaram o banco central. Qual foi a sua função inicial?

Assegurar a coordenação desta actividade fraudulenta, passando esta entidade a ter no seu balanço as reservas de ouro e a emitir as notas de forma centralizada, ou seja, no papel passou a constar apenas o Banco Central, em lugar de emissão de notas por banco.

Com o desaparecimento do Ouro e da Prata, o sistema deixou de se preocupar com a inflação: a emissão de moeda deixou de ter limites; no entanto, os metais preciosos, em particular o Ouro, continuam a provocar “terror” ao actual sistema monetário; e porquê? Uma subida do seu preço, indica às pessoas a verdadeira inflação no sistema.

Como podemos observar na Figura 3, a evolução do balanço do banco central norte-americano tem acompanhado a evolução do preço do Ouro. Em meados de 2018, o mercado do Ouro pressentia que uma impressão de dinheiro sem precedentes estava a caminho….

Figura 3

Em 2011, o Banco Central norte-americano entrou em “pânico” com a subida do Ouro, pois acabara de registar um novo máximo histórico (1 900 USD por onça).

No fundo, o seu preço estava a alertar os investidores para o que se estava a passar: o anúncio de um novo programa de estímulos QE3 – um eufemismo para designar a impressão massiva de dinheiro do “ar” –e a subida inexorável do Franco suíço – o Ouro do sistema fiat.

Em relação ao Franco suíço, criaram uma paridade fixa com o Euro (1,20 CHF por EUR).

No que respeita ao Ouro, como lograram a queda do preço?

Através do mercado de Futuros.

Para a maioria dos activos financeiros, o preço que se forma no mercado de futuros deriva do preço no mercado caixa – o comprador entrega dinheiro e recebe o activo; o vendedor entrega o activo e recebe o dinheiro – , enquanto no mercado de metais preciosos, o mercado caixa deriva do mercado de Futuros!

Tal facto resulta das características dos metais preciosos. Como sobredito, no caso de bens monetários, como o Ouro e a Prata, as pessoas não aparecem no bengaleiro para exigir o seu casaco: simplesmente confiam que ele existe algures, por exemplo, num cofre de uma instituição financeira.

No caso do mercado de Futuros de Metais Preciosos (Comex), a grande maioria dos investidores não exige a entrega física do metal precioso no momento da liquidação do contrato de Futuros: apenas a liquidação monetária; ou seja, vamos ver o seguinte exemplo:

  • Preço do contrato futuro: 1750 (bid) / 1751 (ask);
  • Activo subjacente do contrato: 100 onças de Ouro
  • 3 meses até à expiração do contrato;
  • Preço do Ouro no mercado caixa: 1748 (bid) / 1749 (ask). Atendendo que existe um custo na sua posse, comissão de armazenagem, regra geral, o futuro cota acima do preço caixa;

Ao final de 3 meses, vamos imaginar que o contrato Futuro é liquidado fisicamente, em lugar da liquidação monetária, e o Ouro está a cotar a 1780 USD por onça (último negócio).

Assim, o investidor terá de pagar 175 100 USD; o vendedor teria de entregar as 100 onças no armazém da bolsa de Futuros; o investidor teria de ir recolher o Ouro ou pagar uma comissão à bolsa para armazenar o seu Ouro, em lugar de o levantar. O investidor poupa 3 900 USD (178 000 – 174 900), atendendo que adquiriu 100 onças por 174,9 mil USD em lugar de 178 mil USD.

Em lugar da liquidação física, podia solicitar a liquidação monetária. Neste caso, o vendedor teria de lhe pagar apenas a mais-valia do contrato futuro, ou seja, pagar ao investidor: 3 900 USD.

Importa ter em conta que poucos solicitam a liquidação física do contrato, dadas as características monetárias do Ouro. Ao contrário do Petróleo, uma empresa petrolífera que utiliza o mercado de futuros para cobrir riscos, exige sempre a entrega física dos barris, pois necessita dos mesmos para realizar a refinação.

Tal não acontece com os bens monetários, por essa razão, são susceptíveis à prática de esquemas em pirâmide.

Como se controla o mercado? Se o sistema sente a necessidade de baixar o preço do Ouro, coloca propostas de venda de montante substancial nas bolsas de Futuros, preferencialmente em momentos de baixa liquidez, arrasando, por completo, as melhores propostas de compra (ordens limitadas de compra) e baixando rapidamente o preço de negociação.

Isto é o contrário de um investidor que tem na sua posse enormes quantidades de Ouro – irá sempre tentar vender pouco a pouco, de forma discreta, visando que o preço se mantenha elevado: tal não é do interesse dos “donos do sistema monetário”.

Porque o fazem de forma temerária? Sabem que do lado dos compradores, ninguém irá aparecer a exigir o Metal Precioso. Na prática, indicam ao mercado uma oferta de Ouro que simplesmente não existe; através de “Naked Shorts”, ou seja, vendem algo que não possuem!

E Assim se manipula um mercado com total impunidade!

O livro “The Big Silver Short”, de Chirs Marcus, vem colocar a nu muitas destas operações de controlo do mercado de metais preciosos. Para além do Ouro, por que razão também fazem o mesmo para a Prata?

Como sabem que os investidores continuam a ter em atenção o rácio do preço do Ouro vs o preço da Prata, devem assegurar-se que o preço dos dois metais preciosos evoluem na mesma direcção, obrigando igualmente a intervenções no mercado da Prata.

No fundo, a Prata “leva por tabela”, apesar de hoje ser consumida essencialmente como uma matéria-prima industrial: telemóveis, chips, televisões, painéis solares….

Ora, em 1980, os irmãos Hunt aperceberam-se da inconsistência que existia nas bolsas de futuros: como?

Repararam que o volume de Prata correspondente aos contratos vivos de Futuros – denominado open interest– era muito superior à quantidade de Prata existente no armazém da Bolsa de Futuros. Assim, começaram a comprar contratos Futuros de Prata e a exigir a sua liquidação física.

Como o sistema arrasou os irmãos Hunt? Acusando-os de manipular o mercado e obrigando-os a desfazerem-se da sua enorme posição longa sobre a Prata; inclusive surgiu regulação a permitir apenas ordens de venda no mercado!

As autoridades estavam em pânico, pois sabiam perfeitamente que não havia Prata física para satisfazer as ordens de compra dos irmãos Hunt, bem como de outros investidores que se associaram à mesma estratégia – compra do contrato Futuro com a respectiva entrega física.

Em 2011/2012, em que a Prata se aproximou outra vez do seu anterior máximo histórico de 1980, de imediato as autoridades decidiram aumentar brutalmente as margens para negociar a Prata – tudo é usado para controlar algo que alerte para a inflação –, atendendo que os contratos de Futuros são negociados com alavancagem financeira.

O actual sistema monetário, um enorme esquema em pirâmide, para não ruir terá de controlar, a todo o momento, o mercado de dívida – a taxa de juro não poderá subir, caso contrário é a falência completa dos estados –, a saída das moedas fiat (por exemplo, a compra de criptomoedas) e o mercado de metais preciosos.

Neste sentido, vários estratagemas têm sido utilizadas para evitar a descoberta da inexistência de Ouro suficiente para o volume de negociação nas bolsas de Futuros:

  • Vários estados têm tido dificuldade em solicitar o repatriamento do seu Ouro (artigo 1, artigo 2; artigo 3); será que foi utilizado para satisfazer a entrega física de alguns contratos de futuros?
  • Alguns estados têm dificultado a compra de metais preciosos aos seus cidadãos (artigo 1), sempre se socorrendo do eterno argumento de luta ao branqueamento de capitas – necessitamos identificar o comprador -, ou limitando a quantidade que pode ser adquirida.

Como sempre acontece, qualquer esquema em pirâmide tem um fim.

Este sistema monetário, que nasceu com o final de Bretton Woods em 1971, tem apenas 50 anos e já se encontra próximo do colapso: em 1981, a dívida pública norte-americana atingiu 1 bilião de USD (12 zeros), ou seja, demorou 200 anos; agora a dívida incrementa em 1 bilião ao ritmo de semanas!

A recente queda dos metais preciosos, justificada por uma possível subida de juros por parte do banco central norte-americana, resulta do pânico em que o sistema se encontra, depois do máximo histórico de mais de 2 mil USD por onça registado em 2020.

Até quando irá durar este baralho de cartas?

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