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Forex: Irá o Dólar (USD) Entrar Em Queda Livre?

  • Forex: Irá o Dólar (USD) Entrar Em Queda Livre?

Para além da “pandemia”, a interrupção da tendência ascendente do Dólar norte-americano (USD) foi outra das novidades do fatídico ano 2020.

Como podemos observar na Figura 1, o índice do USD perdeu a tendência ascendente – máximos e mínimos crescentes – iniciada na crise de 2008, quando ocorreu a falência do banco de investimento Lehman Brothers em Setembro de 2008.

Figura 1

Este índice foi criado em Março de 1973, a valer 100 pontos, após o término dos acordos de Bretton Woods em 1971.

Até esse ano, o USD, a moeda reserva do mundo – ainda hoje mantém esse estatuto -, era convertível em onças de Ouro – 35 USD correspondia a uma onça de Ouro – ; desde então, a divisa norte-americana tornou-se uma moeda Fiat, ou seja, deixou de ser convertível numa matéria-prima, tendo apenas curso legal obrigatório– por lei, nenhum comerciante pode recusar esta moeda numa transacção comercial.

Para medir o valor do USD, utiliza-se um cabaz de divisas com diferentes pesos.

Actualmente, este índice é constituído por seis divisas, em que o Euro (EUR) é a moeda mais relevante, com um peso superior a 50%:

  • Euro (EUR; 57,6%)
  • Iene japonês (JPY; 13,6%);
  • Libra Esterlina (GBP; 11,9%);
  • Dólar canadiano (CAD; 9,1%);
  • Coroa sueca (SEK, 4,2%);
  • Franco Suíço (CHF; 3,6%).

Até 1971, a emissão de moeda era realizada por contrapartida de Ouro; ou seja, o Banco Central norte-americano, a FED, para X toneladas de Ouro emitia Y USDs; ou seja, o seu balanço apenas podia aumentar caso existissem reservas de Ouro correspondentes nos seus cofres; a uma maior quantidade de Ouro correspondia uma maior quantidade de dólares e vice-versa.

A partir de 1971, a emissão de moeda é realizada pela aquisição de títulos de dívida pública. Como funciona?

De forma simplificada – sem considerar o sistema de reservas fraccionadas dos bancos comerciais e o seu papel de intermediários no mercado de obrigações– , consiste no seguinte: o tesouro norte-americano emite obrigações do tesouro, vamos imaginar 1.000 obrigações a 10 USD cada, com uma maturidade de 1 ano; a FED emite 10.000 USD e compra ao tesouro norte-americano esses títulos, passando a deter esses activos no seu balanço.

Se estas obrigações implicam o pagamento de juros, vamos supor uma taxa de 10%, significa que no próximo ano o tesouro norte-americano terá de pagar à FED 1.000 USD, a título de juros, e 10.000 USD para devolver o empréstimo.

Aqui salta uma questão:

Se ninguém imprimiu 1.000 USDs adicionais, significa que não existem USDs suficientes para pagar ao banco central (FED), o detentor dos títulos. Como se resolve esta questão?

Emitindo mais dívida, sempre mais, tal como um esquema em pirâmide.

Para manter este sistema monetário a funcionar, a produção de nova dívida tem que superar as amortizações de dívida.

Ou seja, os governos têm que estar permanentemente a vender papel – obrigações – ao banco central para manter o sistema monetário a flutuar.

Em conclusão, para imprimir muito dinheiro, o governo tem que criar uma oferta excepcional de obrigações – activos financeiros– para o banco central as adquirir, emitindo dinheiro para o efeito; caso contrário, não é possível incrementar a quantidade de dinheiro em circulação (explicação simplificada, sem atender ao efeito das reservas fraccionadas dos bancos comerciais).

O actual índice do USD tem em conta a realidade de 1973, quando países como a China, o México, a Coreia do Sul e o Brasil não tinham qualquer peso no comércio mundial; uma realidade muito diferente dos nossos dias.

Vamos então analisar a evolução do USD em 2020 frente às principais divisas mundiais, tendo em conta as divisas dos países sobreditos, tal como podemos observar na Figura 2.

Figura 2

No presente ano, o USD depreciou-se consideravelmente frente à principal criptomoeda, o Bitcoin (BTC), e metais preciosos – Ouro e Prata; o mesmo ocorreu para a Coroa sueca e o Euro, mas em menor dimensão.

No entanto, frente a divisas como o Rublo russo (RUB), o Real brasileiro (BRL) e o Peso mexicano (MXN), fortemente dependentes da exportação de matérias-primas denominadas em USD, registou importantes apreciações, com maior destaque para o Rublo (RUB), em que ocorreu uma apreciação superior a 30%.

A queda do preço do Petróleo é uma importante explicação para o sucedido.

Que fundamentais por detrás do USD para justificar a interrupção da tendência ascendente que se verificava desde a última crise financeira?

Em primeiro lugar, o défice comercial. Desde a crise financeira de 2008 que os EUA apresentam défices comerciais crescentes, tal como podemos observar na Figura 3; sempre a piorar, aproximando-se do máximo histórico ocorrido em 2006, em plena loucura imobiliária nos EUA.

Apesar de afirmações grandiloquentes como: “vamos realizar bons acordos comerciais”; nada impediu que o défice comercial para o presente ano feche em torno de 565 mil milhões de EUR, um dos maiores da história dos EUA!

Figura 3

Se um determinado país regista importações superiores a exportações, como é o caso do EUA, significa que as vendas de USD são superiores às compras de USD no mercado de Forex (o que é forex), ou seja, ocorre uma pressão vendedora.

Vamos utilizar um exemplo para ilustrá-lo melhor:

  • Quando um importador norte-americano adquire bens à China, vende 2000 USD e compra bens chineses no valor de 2000 USD; o exportador chinês vende os Dólares (USD) e compra Iuanes (CHY);
  • Quando um exportador norte-americano vende bens à China, recebe 1 000 USD e vende os bens norte-americanos no valor de 1.000 USD; para pagar ao exportador norte-americano, o importador chinês compra Dólares (USD) e vende Iuanes (CHY);
  • Se a pressão vendedora (2000 USD) supera a pressão compradora (1000 USD), o USD tende a depreciar-se nos mercados de Forex.

Ou seja, um défice comercial para um dado país, por regra, coloca pressão vendedora no mercado de Forex para a sua moeda. Este não é o caso do Dólar norte-americano, dada esta ser a divisa reserva do mundo, como adiante se explicará.

Na Figura 3, podemos observar que, ao contrário dos EUA, a Zona Euro apresenta um excedente comercial de 216 mil milhões de EURs.

Na Figura 4, podemos constatar que os outros dois grandes blocos comerciais, a China e o Japão, são igualmente distintos dos EUA; o primeiro, com uma balança comercial equilibrada; o segundo, com um enorme excedente comercial, em torno de 400 mil milhões de EURs.

Os EUA, em lugar de produzirem para pagar as suas importações, simplesmente imprimem Dólares e pagam as suas importações: um privilégio do emissor da moeda reserva do mundo.

Figura 4

Um país pode atenuar um défice da balança comercial de duas formas:

  • (i) caso beneficie de rendimentos de activos detidos pelos seus residentes no estrangeiro;
  • (ii) beneficie de remessas sem contrapartida, como é o caso das remessas de emigrantes, por exemplo.

Assim, se um cidadão norte-americano receber rendas de um apartamento em França, em EURs, ou trabalhe em França e envie EURs para os Estados Unidos, estes terão de ser convertidos em USD, atenuando, desta forma, o défice da balança comercial.

Apesar disso, os EUA, em 2020, irão apresentar um enorme défice para a sua balança de transacções, em torno a 362 mil milhões de EURs (Fonte: FMI). Mais uma vez, a sua actual situação não fortalece o USD.

Outro dos desequilíbrios que pode afectar a divisa de um país, resulta da necessidade de captar poupança estrangeira para financiar o défice das contas públicas. Os EUA, no presente ano, irão apresentar um enorme défice público, um dos maiores da sua história, de 18,7% do PIB, cerca de 3,9 biliões de USD (12 zeros) – ver Figura 5.

Ora, um desequilíbrio desta dimensão, leva a que, no futuro, o governo federal norte-americano seja obrigado a pagar juros e capital em montantes elevados, obrigando-o a imprimir USD para proceder aos pagamentos.

Esses países estrangeiros, ao receberem estes rendimentos em USD, irão convertê-los na sua divisa (vendendo USD e adquirindo divisa local), colocando, uma vez mais, pressão vendedora no Dólar norte-americano.

Figura 5

Importa ter em conta que, em 2020, os EUA não estão sozinhos.

A situação das contas públicas de quase todos os governos é uma calamidade! O Japão irá terminar 2020 com uma dívida pública que representa 266% do PIB!

Face a esta realidade, uma autêntica tragédia, um país endividado e com desequilíbrios permanentes, como são os EUA, por que motivo a sua divisa, o USD, não cai a pique nos mercados de Forex?

Tudo se deve ao estatuto especial de moeda reserva do mundo.

Em primeiro lugar, os grandes países exportadores para os EUA não convertem os USDs que recebem para a sua divisa; ao receberem os Dólares (USD) dos importadores norte-americanos, através do seu banco central, aplicam-nos em instrumentos financeiros denominados em USD, como obrigações do tesouro norte-americano (financiando os défices públicos) ou acções de empresas cotadas em bolsa- como é caso do Banco Central Suíço, um dos maiores accionistas da Apple – ou seja, neste caso, não há pressão vendedora de USDs no mercado de Forex.

Por outro lado, muitos destes países exportadores também optam por acumular os USDs das suas exportações junto do seu Banco Central, pois consideram-nos reservas, dada a sua enorme liquidez no mercado de Forex.

Por exemplo, países como o Brasil quando exportam Soja para os EUA, recebem USDs; em lugar de os vender no mercado de Forex, deixam-nos à guarda do seu banco central.

Na sua óptica, caso a sua divisa seja atacada em crises financeiras, como acontece com a Argentina muitas vezes, o seu banco central desata a vender USD – utilizando as referidas reservas – e a comprar Pesos argentinos no mercado de Forex, apreciando a sua divisa ou evitando a sua queda abrupta nos mercados de Forex.

Quando existem crises financeiras, como a de 2008, atendendo que a maioria dos instrumentos financeiros negociados em bolsa estão denominados em USD (matérias primas, como Petróleo), conduzem à inevitável liquidação, ou seja, a uma venda a qualquer preço, visando obter liquidez: consiste na venda desse instrumento e na compra de USDs, colocando, mais uma vez, pressão compradora sobre a divisa norte-americana.

A maioria dos países do terceiro mundo emite dívida denominada em USD, atendendo que os seus mercados nacionais não possuem poupanças e liquidez para satisfazer a sua oferta de obrigações. Assim, no momento em que emitem empréstimos em USDs, não os convertem na sua divisa local, realizando pagamentos internacionais com esses USD.

No futuro, quando ocorre o pagamento de capital e juros, estes países convertem a sua moeda local em USD, ou seja, vendem a divisa local e compram USDs para poder pagar aos credores internacionais – apenas aceitam receber em USDs.

Atendendo que a dívida é crescente, existirá sempre procura por USDs nos mercados de Forex para proceder a estes pagamentos.

A última, e talvez a mais importante no período que vivemos, resulta da dimensão dos seus mercados de capitais.

Muitos investidores internacionais procuram elevadas rendibilidades, num contexto de taxas de juro 0%, comprando todo o tipo de instrumentos financeiros (acções, obrigações, ETFs, matérias-primas, derivados…); apenas os mercados norte-americanos proporcionam estas oportunidades de investimento – para tal investimento, os investidores internacionais são obrigados a vender a sua divisa e a adquirir USDs para negociarem nessas bolsas de valores.

Estas são as principais razões para que o USD não se afunde nos mercados de Forex, a sua situação de moeda reserva do mundo tem mantido os norte-americanos com um nível de vida que não corresponde à sua produção.

Para “tapar estes buracos”, o Banco Central norte-americano, a FED, tem-se concentrado em atrair capitais estrangeiros.

Para tal desiderato, pode utilizar duas opções:

  • subir os juros, tornando os depósitos mais atraentes para os estrangeiros, defendendo o valor do USD nos mercados de Forex, atendendo que a compra de USD para aplicações coloca pressão compradora neste mercado; ou
  • manter uma bolha accionista sem precedentes, atraindo investidores internacionais às suas bolsas de valores, dadas as rendibilidades proporcionadas (a Tesla, por exemplo, sobe mais de 700% no presente ano!).

Esta última opção parece ser a preferida da FED, pois a primeira provocaria certamente um crash das bolsas de valores, apesar de defender o USD – a opção parece ser a defesa da actividade de investir em bolsa, protegendo a oligarquia em Wall Street.

Como podemos observar na Figura 6, a expansão do balanço da FED tem acompanhado a subida do principal índice accionista norte-americano.

Desde Março de 2009, o índice S&P 500 regista uma subida de 380% e encontra-se em máximos históricos – em torno dos 3.700 pontos.

Figura 6

Como podemos ver, em 2020, quando ocorreu o crash bolsista em Março e Abril, a FED veio de imediato em socorro das bolsas de valores norte-americanas, imprimindo dinheiro como nunca visto. Entre o final de Agosto de 2019 e 23 de Dezembro de 2020, imprimiu cerca de 3,6 biliões de USD, duplicando o seu balanço.

Todos os índices bolsistas norte-americanos estão a beneficiar desta expansão monetária sem precedentes: o NASDAQ 100, o índice tecnológico, sobe mais de 45% em 2020 e cerca de 1000% desde o mínimo ocorrido em Março de 2009.

Por que motivo esta impressão massiva de USD eleva os índices bolsistas? Por duas vias.

Quando a FED adquire obrigações do tesouro, ao possuir um poder aquisitivo sem paralelo, coloca pressão compradora e eleva o preço destes instrumentos financeiros, reduzindo, desta forma, a taxa de juro.

No mercado secundário, no início de Setembro de 2019, as obrigações do tesouro norte-americano, com maturidade a 10 anos, proporcionavam um rendimento de 1,668%; agora, apenas 0,94% (início de Dezembro de 2020).

Quando as grandes empresas norte-americanas emitem dívida nos mercados financeiros, ou seja, vendem obrigações aos investidores, estão a competir directamente com o tesouro norte-americano.

Assim, se a Apple desejar vender dívida, terá que dar, por exemplo, um spread de 25 pontos base sobre a remuneração do tesouro norte-americano. Neste caso terá de pagar 0,25% acima do governo federal norte-americano.

Ora, se os juros cobrados ao estado federal descem, o mesmo ocorre para as grandes empresas norte-americanas cotadas em bolsa.

Desta forma, podem endividar-se ainda mais e adquirir acções próprias nas bolsas norte-americanas, elevando o preço das suas acções em bolsa, gerando um ciclo vicioso, mais dívida, maior a subida das cotações em bolsa – o que tem acontecido há mais de 11 anos. A Apple é um dos maiores compradores das suas próprias acções.

A outra via, resulta da intervenção no mercado de dívida empresarial, como aconteceu no presente ano. A FED decidiu adquirir dívida das empresas de forma indirecta, através da compra de ETFs que adquirem dívida de elevado risco emitida por empresas.

Assim, as taxas de juro da dívida de elevado risco desceu de imediato – nada como um investidor com notas de monopólio para reduzir o risco, ou seja, a taxa de juro.

Mais uma vez, tal acção incentivou as empresas a emitir mais dívida e a realizar compras de acções próprias nas bolsas de valores – o tal ciclo vicioso, mais dívida, maior a subida das cotações em bolsa.

Para a FED ter expandido o seu balanço como o fez em 2020, teria de ter muito papel no mercado para adquirir, em particular obrigações emitidas pelo tesouro norte-americano.

Como?

Nada como uma “pandemia” que destrua todos os pequenos negócios e a economia em geral; após a sua obliteração, estes desgraçados solicitam ajudas financeiras ao governo que causou a sua ruína.

Esta tragédia, infelizmente, tinha que ser global, para que todos os bancos centrais entrassem na mesma espiral de impressão de dinheiro sem fim, permitindo que a FED não seja o único banco central a depreciar a moeda.

No final de 2020, assistimos a mais um – não importa a cor da administração-, programa de estímulos, desta vez no valor de 900 mil milhões de USD.

Este estímulo, em forma de lei, continha 5.593 páginas – os que votaram não o leram seguramente -, contemplando vários fins – vítimas da “pandemia”, estímulos à criação de padrões de segurança para a medicina de apoio às corridas de cavalos, ajudas aos monges tibetanos….

Os défices e a dívida pública, como vimos na Figura 5, subiram à estratosfera, obrigando ao seu financiamento: como?

Através da emissão massiva de obrigações – dívida pública –, integralmente adquiridas pelo banco central.

A impressão massiva de dinheiro não irá certamente parar; sempre com a intenção de estimular a maior bolha bolsita da história – as cotações irão manter a mesma tendência ascendente atendendo à continuidade da mesma política monetária.

Como irá terminar?

Certamente com a inexorável queda do Dólar norte-americano (USD), caso esta situação de dívida e impressão de dinheiro sem fim entre em completo descontrolo, como parece estar a acontecer.

No final do processo, como sempre, irão existir vencedores e perdedores:

  • os primeiros, uma ínfima minoria, a proprietária da maioria das acções ultravalorizadas; os multimilionários detentores de acções de grandes empresas norte-americanas (Apple, Netflix, Amazon, Microsoft…) e de activos reais (Ouro, Prata, imobiliário, terrenos…);
  • os segundos, nós, a plebe, que em lugar de dispor de uma pequena remuneração pela poupança de uma vida no banco, nada irá receber; no seu bolso existirá uma divisa que valerá gradualmente menos, atendendo que compra cada vez menos; continuará de fralda na cara, em pânico, na ânsia de tomar uma vacina milagrosa, com medo dos demais, arruinado e sem emprego.

No final, a FED a continuar assim, será o único comprador e o único vendedor de todo o papel cotado nos mercados, terminando a sua missão iniciada em 1913; terá operado a maior transferência de riqueza da história – do nosso bolso para uma minoria!

A remuneração das obrigações norte-americanas a 10 anos em 1995 era de 7,85% e agora é de apenas 0,93%, ou seja, para o mesmo rendimento um aforrador necessita 8 vezes mais capital.

Isto só pode piorar!

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