O leitor que tem algum interesse sobre os mercados financeiros, já terá ouvido falar seguramente nas Opções. Trata-se de um dos instrumentos financeiros mais complexos do mercado, por se tratar de um derivado, e ainda pouco acessível a uma grande maioria de investidores.
Ao contrário do que se julga, é um instrumento que permite limitar o risco de forma expressiva, mas pode ser igualmente utilizado para especular em bolsa, dada a alavancagem financeira que proporciona.
De que se trata?
É parecido a contratar um seguro automóvel. Se ocorrer algum acidente, a companhia de seguros é obrigada a indemnizar-nos pelos danos causados: o mesmo se passa com as opções.
O preço da opção é o prémio do seguro.
Como a definimos?
Em primeiro lugar, vamos definir as Opções Europeias e seguidamente iremos apresentar ao leitor alguns exemplos.
Comecemos pela Opção Call:
Nada como utilizar um exemplo para melhor ilustrar a definição aqui apresentada. Vamos supor que as acções da Apple estão a cotar a 130 USD. O preço da Opção Call, cujo o activo subjacente é a acção da Apple, está a cotar na bolsa de derivados a 4,5 USD. Esta opção tem um preço de exercício de 140 USD e o seu vencimento irá ocorrer daqui a 6 meses.
Vamos então analisar graficamente os possíveis resultados do comprador da Opção, que podemos observar na Figura 1.
Figura 1
Vamos então interpretar a Figura 1. No eixo das abcissas, temos as possíveis cotações no momento em que a opção expira – recordemo-nos, daqui a 6 meses.
Assim, se ao final de 6 meses a cotação das acções da Apple é, por exemplo, 98 USD, a opção não terá qualquer valor; e porquê?
O comprador poderá adquirir as acções da Apple no mercado bolsista a 98 USD, em lugar de 140 USD, o preço a que tinha direito de adquirir acções da Apple. Neste caso, não há interesse em executar a opção, pois o mercado proporciona um preço muito inferior, ou seja, trata-se de uma decisão ilógica.
Adicionalmente, como o comprador pagou 4,5 USD pela opção, temos de considerar o pagamento do prémio para obtermos o seu resultado global, o prémio pago deverá ser deduzido no cálculo. Até ao preço de exercício, o resultado é sempre negativo, em particular -4,5 Euros.
Vamos agora analisar um caso intermédio: a cotação, no momento da expiração, era de 145 USD por acção. Neste caso, irá valer a pena executar a opção, atendendo que o vendedor é obrigado a vender a 140 USD, em lugar de 145 USD, o preço de mercado.
Assim, ao executar, o comprador tem um ganho de 5 USD, que deverá ser deduzido do prémio que pagou na aquisição da opção, o que significa um resultado positivo de 0,5 USD (5-4,5).
Entre 140 e 144,5, apesar de sempre se justificar executar a opção, o resultado é sempre negativo ou nulo, como é o caso de 144,5, pois terá que ser deduzido o custo da opção. Para valores superiores a 144,5, o comprador terá sempre ganhos, que serão tanto maiores quanto maior o valor da cotação das acções da Apple.
Por exemplo, se a cotação das acções da Apple, no momento da expiração, se encontrarem a 180 USD, significa um resultado global de 35,50 USD (180-140-4,5).
E o que acontece ao vendedor da opção?
Importa recordar que se trata de um contrato entre duas partes: o comprador e o vendedor. No fundo, o primeiro compra o seguro, o segundo vende o seguro. Na Figura 2, podemos observar os resultados do vendedor da Opção Call.
Figura 2
Até ao preço de exercício, neste caso 140 USD, o vendedor tem sempre ganhos: recebeu 4,5 Euros do comprador e este não executa a sua opção. No intervalo de 140 USD a 144,5 USD, o seu resultado começa a diminuir até se anular a 144,5; a partir de 144,5 terá sempre resultados negativos e crescentes com a subida da cotação.
Em resumo:
Agora vamos definir a Opção Put (Opção de venda) de uma opção europeia:
Para melhor ilustrar, vamos utilizar os parâmetros do exemplo anterior: (i) a cotação das acções Apple está a 130 USD; (ii) o seu preço de exercício é de 140 USD; (iii) expira daqui a 6 meses; (iv) o prémio da opção Put é de 16,7 USD.
Vamos então analisar os possíveis resultados de um comprador de uma opção Put, tal como se pode observar na Figura 3.
Figura 3
Acima de 140 USD, não faz sentido executar a opção de venda; e porquê?
Vamos imaginar que o preço da acção da Apple está a 150 USD no momento da expiração da opção Put: não faz sentido executar; atendendo que o comprador da Put pode vender as suas acções no mercado a um preço superior, em lugar de exercer a sua opção e vender a 140 USD. Acima dos 140 USD, o comprador não executa a opção, mas o prémio da opção é considerado, neste caso 16,7 USD.
Entre 160 USD e 123,33 USD, o comprador executa a opção, pois logra vender acima do preço de mercado, no entanto, tem que descontar o prémio que pagou, no nosso exemplo, de 16,7 USD.
Se o preço das acções da Apple encontrar-se abaixo dos 123,33 USD, o comprador da opção Put, não só irá exercer a opção de venda, mas também irá obter ganhos, limitados a 123,33 USD; ou seja, se no cenário pouco provável da Apple falir, as suas acções irão valor 0, neste caso, o resultado seria obtido pelo cálculo (140-0)-16,7 USD, ou seja, 123,33 USD.
As suas perdas estão limitadas ao valor do prémio pago para adquirir a opção de venda.
Vamos agora analisar os resultados para os vendedor da opção Put. Neste caso, os possíveis resultados da sua venda estão representados na Figura 4.
Figura 4
No nosso exemplo, acima de 140 USD, como o comprador não executa a opção, o vendedor fica com o prémio que recebeu do comprador, neste caso, 16,7 USD. Entre 123,3 USD e 140 USD, os ganhos vão diminuindo até se anularem a 123,3 USD; a partir daqui as suas perdas estão limitadas a 123,3 USD, no caso da cotação das acções da Apple atingir 0 – na Figura 4, apenas consideramos um mínimo de 98 USD.
Em resumo:
Acabámos de analisar as quatro situações possíveis para as opções europeias. Adicionalmente, existem as opções americanas; estas permitem ao comprador da opção executar a opção em qualquer momento até à data de expiração; no entanto, importa ter em conta o seguinte: com a liquidez que actualmente existe no mercado, o seu valor será praticamente igual a uma europeia, pois podemos sempre sair de uma posição através de uma bolsa.
Quais são os aspectos-chave que podem afectar o preço de uma opção?
As setas a verde, indicam que a subida do factor tem um impacto positivo no valor da opção – o prémio; uma seta vermelha, indica que a subida do factor tem um impacto negativo no valor da opção; podemos observar o impacto de cada factor na Figura 5.
Figura 5
Para melhor explicar as setas, importa aclarar o conceito volatilidade. Trata-se de uma medida de risco do activo subjacente.
Um activo com maiores oscilações, por exemplo, o Bitcoin, irá ter uma medida de volatilidade superior face à acção da Apple, que apresenta menor oscilações diárias.
No nosso exemplo, utilizámos os seguintes parâmetros:
Ao utilizarmos o modelo Black-Scholes para obter o preço da opção, temos para uma Call Europeia 4,5 USD e para uma Put Europeia 16,7 USD, valores utilizados nos exemplos anteriores. Se os valores deste parâmetros são alterados, o valor da opção, de acordo se é uma Call ou uma Put, irá variar no sentido das setas indicado na tabela anterior.
Os investidores podem utilizar diferentes estratégias com opções, que será objecto de um artigo posterior. Também iremos explicar no próximo artigo as letras gregas.
Estes valores servem para medir a sensibilidade da variação do preço da opção em face de uma alteração dos parâmetros subjacentes ao seu cálculo.