Nas últimas semanas, a Bitcoin, bem como as outras criptomoedas, tem sido o alvo de todas as atenções; em particular depois da queda espectacular que ocorreu no último dia 19 de Maio de 2021, já denominado como a Quarta-Feira Negra das Criptomoedas: entre o máximo, 43 607 USD por Bitcoin, e o mínimo da sessão, 30 mil USD por Bitcoin, registou uma queda de 31%!
Como podemos observar na Figura 1, desde o início de 2021, a Bitcoin registou uma subida superior a 100%, atingindo um máximo de 63 398 USD no dia 15 de Abril de 2021; desde essa data, corrigiu mais de 50%, registando um mínimo na fatídica Quarta-Feira Negra de 30 mil USD; uma queda superior a 50%.
Figura 1
Este contexto parece estar a dar razão a muitos académicos e banqueiros centrais que afirmam que a Bitcoin dificilmente poderá servir de moeda, dada a sua extrema volatilidade.
A Bitcoin parece hoje ser o activo financeiro mais vilipendiado pelo poder fáctico, aquele que detém um controlo efectivo sobre o actual sistema monetário, dominado por dívidas e défices sem fim e a impressão massiva de dinheiro. É óbvio que a concorrência é algo que não lhes agrada.
No passado, algumas das suas profecias foram um autêntico fracasso.
Em 1998, o laureado com o prémio Nobel Paul Krugman afirmava: “O crescimento da Internet diminuirá drasticamente, à medida que a falha na “lei de Metcalfe” se tornar aparente: a maioria das pessoas não tem nada a dizer umas às outras! Em 2005, ficará claro que o impacto da Internet na economia não foi maior do que a máquina de Fax”. Nem necessitamos rebater tal asserção.
Em 2013, lançava outra das suas profecias: “A Bitcoin é o mal”.
Recentemente, voltou de novo à carga: “A Bitcoin não é uma inovação; ela existe desde 2009 e, em todo esse tempo, ninguém parece ter encontrado um bom uso legal para ela. Não é um meio de troca conveniente; não é uma reserva estável de valor; definitivamente não é uma unidade de conta…”.
Pelo seu passado, já vimos que Paul Krugman não é melhor que o celebérrimo Professor Zandinga.
Mas os vitupérios sobre a Bitcoin têm vindo essencialmente dos banqueiros centrais ou daqueles que já desempenharam tais funções, como é o caso da actual secretária de estado do tesouro norte-americano, Janet Yellen.
E o que disse recentemente?
No final de Fevereiro do presente ano, ao portal de notícias norte-americano CNBC, afirmava: “Na medida em que é usada, temo que muitas vezes seja para transacções ilícitas. É uma forma extremamente ineficiente de conduzir transacções monetárias; a quantidade de energia consumida no processamento dessas transacções é impressionante. É um activo altamente especulativo e as pessoas deveriam estar cientes de que pode ser extremamente volátil e preocupo-me com as perdas potenciais que os investidores podem sofrer…”.
É sempre pungente a preocupação destes burocratas com o dinheiro dos investidores. Estranha-se que não lhes apareçam tais dores no momento de apertar o botão para imprimir biliões de USD do “ar”, reduzindo brutalmente o poder aquisitivo da moeda e, desta forma, confiscando o património das pessoas através da inflação que eles mesmos criam.
Mas ainda mais comovedor é a sua preocupação com o ambiente, quando a indústria financeira parece não querer dar-nos a conhecer a sua conta de electricidade, em particular dos milhões de servidores e edifícios que utilizam.
Só a maldita Bitcoin parece poluir o mundo. Também não parece incomodar os milhares de máscaras que se espalham e acumulam todos os dias pela rua.
A presidente do BCE também juntou a sua voz à indignação, afirmando: “…é um activo altamente especulativo…”, que gerou “actividades repreensíveis…”, por essa razão “terá de haver regulação”. Tudo o que esteja fora do seu controlo e arbitrariedade gera-lhes uma enorme desordem nas suas mentes.
Até o Papa Francisco parece ter perdido a cabeça e também veio falar do opróbrio que representa a poluição associada à mineração da Bitcoin: “A tecnologia baseada no uso de combustíveis fósseis altamente poluentes precisa ser substituída sem demora.”
Em definitivo, os líderes mundiais não apreciam a Bitcoin e as Criptomoedas em geral.
Até a tratam como o Diabo na Terra. Uma coisa é certa, se não estivesse a incomodar vastos interesses, não geraria tanta controvérsia. Efectivamente, a sua volatilidade é demasiado expressiva para desempenhar o papel de divisa de uma economia; essa função poderá no futuro vir a ser desempenhada pelas Stablecoins, um tema por mim tratado em artigos anteriores.
Em relação aos riscos de investimento, parece-me que muitos destes supervisores nunca investiram na bolsa ou estão a actuar com uma enorme desonestidade intelectual. E porquê?
Outro activos financeiros, como acções de empresas, podem gerar igualmente perdas substanciais para os investidores, no entanto, nunca encontramos supervisores a vociferar contra os mesmos: é porque os mercados regulados são por si controlados e das Criptomoedas não?
Vamos então utilizar alguns casos. Há um conceito importante que as pessoas que se iniciam no bolsa tendem a não analisar: o Drawdown. Trata-se da pior entrada e saída de uma posição que pode ocorrer para um investidor.
Se um investidor comprasse acções do Banco Comercial Português (BCP) no final de Abril de 1998, teria adquirido estes valores a 24 Euros por acção aproximadamente.
Se cumprisse com a estratégia: “isto é de longo prazo…isto é para manter”; mantendo as acções na sua posse durante mais de 20 anos e as vendesse no final de Outubro de 2020 a 6,81 cêntimos por acção, um mínimo histórico, teria perdido 99,7% do seu investimento (ver Figura 2).
Um aforrador que tivesse aplicado 100 Euros em 1998 no BCP, no final de 2020 teria apenas 30 cêntimos!
Figura 2
Mas podemos argumentar: isto passou-se ao longo de mais de 20 anos e nas Criptomoedas é um processo rápido, que ocorre em pouco tempo; tal não acontece com as acções.
Na Figura 3, vamos então observar o que se passou com a Tesla no início de 2020.
A 19 de Fevereiro de 2020, a Tesla encerrou a cotar nos 183,49 USD por acção; no dia 18 de Março encerrou a cotar a 72,2 USD por acção, uma queda de 60% em apenas um mês!
Figura 3
Estas quedas podem acontecer para qualquer classe de activos, não é um exclusivo das Criptomoedas.
Efectivamente, a volatilidade diária é substancialmente mais elevada, mas dever-se-á à inexistência de regras de supervisão que tornam este mercado parecido aos loucos anos 20, tal como explicado brilhantemente pelo meu colega Paulo Pinto.
O que podemos concluir?
Ninguém está verdadeiramente preocupado com as perdas dos investidores, elas podem ocorrer em múltiplas situações.
Devemos canalizar as nossas energias para a formação dos investidores, essa é a principal questão que se coloca.
Independentemente da classe de activos, sejam acções de empresas, índices, forex ou matérias-primas, o investidor tem que dominar várias conceitos; destacamos alguns:
Investir na bolsa, seja em qualquer activo financeiro, implica uma sólida formação.
Atribuir as culpas ao sucesso ou insucesso de um determinado investimento às características do activo financeiro não parece ser a melhor forma de ajudar os pequenos aforradores.
Estes devem concentrar-se na sua formação e estarem preparados para investir em qualquer mercado ou activo, incluindo as Criptomoedas.