Não existem conselhos de administração de empresas que estejam imunes ao conflito. Não é agradável, mas é inevitável.
O verdadeiro problema não é a existência de conflitos, mas a forma como eles são resolvidos quando ocorrem. O carácter das pessoas que o compõem e a sua educação, se forem de boa índole, são suficientes para que as diferenças de opinião não degenerem para tomar vida própria.
Se é verdade que tenho alguma experiência de conselhos de administração, não tenho nenhuma experiência de conselhos de ministros; mas imagino que a dinâmica deve ser a mesma e essa é a razão desta introdução.
Para manter um conselho de administração compacto, dinâmico e saudável na sua actuação, é importante separar questões pessoais, é importante admitir que se está errado quando isso acontece e, inclusive, desculpar-se quando a situação a isso obriga.
Este exercício de raciocínio está relacionado com a preparação das comemorações dos 50 anos do 25 de abril em… 2024. decidida em conselho de ministros e a sua ‘’adjudicação’’ a uma equipa liderada pelo prof. Pedro Adão e Silva, por um custo ofensivo para a oposição e um formato esdrúxulo, considerando que vai ‘’trabalhar durante quase 6 anos, para uma data especifica de um evento que ocorre… todos os anos.”
Não vamos, obviamente, fazer considerações políticas, que essas estão reservadas a profissionais, mas não podemos deixar de fazer constatações mais mundanas e daí a tentativa de comparação entre o conselho de ministros e um conselho de administração.
Custa acreditar que no maior conselho de ministros da história da democracia portuguesa não tenha havido nenhum membro que se tenha oposto a esta decisão por uma qualquer razão. Se fizesse parte do conselho de ministros não teria deixado de recordar os colegas, que Portugal sai de um ano com a maior queda do seu PIB, o seu endividamento é o mais alto da história e o país só mantém os seus brandos costumes porque o BCE está na disposição de financiar os nossos gastos.
Imagino todas as famílias que estão a viver uma situação similar de endividamento máximo e precaridade no seu trabalho, nomearem um familiar para organizar a festa dos 50 anos do patriarca da família ou os 25 anos de casamento, ou a maioridade do filho em 2024 com uma festa de arromba, ou de forma mais singela os 30 anos em que o casal se conheceu.
Imagine-se o que dirão aqueles que emprestaram dinheiro a estas famílias. Imagine o que pensarão os outros condóminos ao saber que vai dar uma grande festa, mas não paga o condomínio.
Claro que o tema 25 de Abril é muito diferente, é uma questão política não se pode comparar, está em causa a liberdade. Mas tanto quanto se sabe também neste aspecto não houve nenhum ministro que lembrasse que estamos a viver numa rotina de opressão com um estado policial com a desculpa da Covid, nem ninguém se lembrou que existe um princípio de indignação com a aprovação parlamentar do regime de censura aprovado com a Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital.
Estranho que ninguém naquele conselho de ministros se tenha lembrado que só poderiam estar a falar de festas (mesmo que de 50 anos), porque o BCE continua na disposição de comprar dívida e de a manter a custo zero ou quase zero. Tivesse tido José Sócrates a mesma sorte e provavelmente ainda seria primeiro-ministro.
Que se passa com este governo que não se apercebeu do que aprovou com esta desfaçatez? Que se passa para não se recordarem que ‘’à mulher de Cesar não basta ser séria tem também de parecê-lo’’.
O pior desta decisão é que demonstra que as prioridades deste Governo não são as preocupações da maioria dos portugueses.