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A Moeda E O Actual Sistema Financeiro

  • A Moeda E O Actual Sistema Financeiro

A moeda foi inventada pela humanidade como forma de resolver as limitações da troca directa, como por exemplo, trocar bananas por maçãs.

Qual a principal limitação? A necessidade de coincidência de vontades.

Imaginemos que numa ilha existem habitantes que possuem maçãs e querem peixes. Também existem, por exemplo, habitantes que possuem bananas, mas desejam peixes. Ou seja, é muito difícil encontrar uma contraparte, ou seja, alguém que deseje o bem e a quantidade em que um dos habitantes da ilha se especializou.

Existe outro problema: os bens de capital não possuem qualquer valor de mercado na troca directa. Imaginemos que o leitor tem uma cana de pesca, nunca a poderá trocar, pois os habitantes apenas estão interessados em bens e serviços que satisfaçam de imediato uma necessidade, tais como maçãs ou bananas, pois trata-se de bens que satisfazem uma necessidade de consumo.

Na prática, os incentivos à produção e acumulação de bens de capital em tal sociedade são inexistentes.

Adicionalmente, temos ainda outra questão que dificulta imenso a actividade produtiva. Numa sociedade com estas características, é impossível a existência de empresários, pois trata-se de alguém que tenta combinar bens de capital e trabalho humano com o objectivo de produzir e vender um determinado bem ou serviço, arriscando as suas poupanças, com a esperança de obter lucros futuros.

É alguém que entrega as suas poupanças a colaboradores, a título de salário, em troca de um futuro incerto, com a expectativa de obter uma rendibilidade positiva.

Porque dizemos futuro incerto? Porque nenhum empresário sabe qual será a reacção dos consumidores quando o seu produto é apresentado ao mercado, nada está garantido, por isso é uma actividade de risco.

Nas sociedades modernas, a justificação de um determinado projecto, obriga a uma análise de viabilidade numa unidade comum, por exemplo, em EURs ou USDs, caso contrário, a tarefa torna-se impossível.

Ou seja, a análise de um projecto de investimento parte de uma estimativa de receitas (unidades vendidas, preço por unidade…), custos (salários, gastos, matérias-primas…) e montantes de investimento (máquinas, PCs…), em EURs, por exemplo, para verificar se determinado projecto de investimento vale a pena ou não.

Na prática, nas nossas sociedades modernas, qualquer homem de negócios tem ao seu dispor uma unidade comum a todas as combinações possíveis, podendo, desta forma, realizar estimações complexas e decidir se vale a pena enveredar por um determinado projecto ou não.

Sem uma unidade comum a todas as combinações é impossível a existência de uma produção complexa. Como seria se tivesse de calcular receitas em maçãs, bananas, laranjas…!

Por fim, outro problema subsiste. Numa sociedade com troca directa, a concessão de crédito também é impossível. Se o leitor deseja conceder um crédito a outro habitante da ilha, como fazer? Imaginemos que tem 10 bananas em excesso, podendo emprestá-las a outro pessoa, mediante a devolução das mesmas daqui a um ano, por exemplo, mais duas, a título de juros, o leitor julga que isto faz sentido?

Ou seja, o diferimento de consumo presente, regra geral, apenas poderá ser realizado através de moeda, permitindo dizer que daqui a x tempo se irá receber z, o valor do crédito concedido, adicionado de y, a título de juros; caso contrário, seria uma tarefa herculeana.

A moeda é algo que emerge naturalmente em qualquer comunidade humana: por exemplo, numa prisão, regra geral, ao fim de algum tempo, os cigarros são utilizados em todas as transacções, servindo como unidade de medida (X cigarros por uma refeição; Y cigarros por um livro…).

As sociedades antigas utilizaram inúmeras matérias-primas como moeda. Por exemplo, a palavra salário vem do sal, uma matéria-prima que foi utilizada para pagar aos soldados romanos. Os metais preciosos, pelas suas características, como o ouro ou a prata, tornaram-se a moeda mais utilizada pela humanidade.

O Ouro, por exemplo, serviu de moeda à humanidade durante 5 mil anos. Como se define uma moeda? Essencialmente, serve como meio de troca, ou seja, é o bem com mais liquidez no mercado, que toda a gente deseja.

Apenas podemos dizer que algo é uma moeda se a utilizamos em todas as nossas compras, liquidações de contratos, pagamentos de impostos, entre outros.

Servindo como meio de troca, derivam as demais funções da moeda: reserva de valor e unidade de medida. Ao ser um meio de troca aceite por toda a gente, as pessoas guardam-na para qualquer eventualidade futura, atendendo que daqui a uns anos, se a necessitam, sabem que a mesma é aceite por toda a comunidade.

No que respeita à unidade de medida, é algo óbvio: passamos a medir tudo em x Euros, z USD, ou, antigamente, em Kg ou onças de ouro/prata.

Com o aparecimento da moeda, uma das maiores invenções da humanidade, por que surgiram os bancos?

Com o advento da moeda, a actividade bancária apareceu, visando satisfazer essencialmente três necessidades:

  • (i) Serviço de custódia;
  • (ii) Processamento de pagamentos;
  • (iii) Intermediação de poupança.

Estas são as três funções originais realizadas pelos bancos. A primeira, consiste em cobrar, por exemplo, 0,5%, do valor do depósito à guarda do banco. Imaginemos que o leitor depositava 100 onças (30 gramas, aproximadamente por onça) de ouro. Neste caso, o banqueiro cobrar-lhe-á 0,5 onças de ouro ao ano pela guarda do seu dinheiro.

Isto significa que se o leitor não realizasse qualquer levantamento ou depósito durante um ano, no final desse período, o seu depósito passaria a valer 99,5 onças. No final deste período, o banco ganhou 0,5 onças consigo, dado que gastou dinheiro numa caixa-forte, segurança e funcionários para zelarem pelo seu depósito.

Esta actividade implica que os extractos de conta de todos os clientes do banco coincidam com a quantidade de ouro existente na caixa-forte. Imaginemos que este banco emite uma nota, neste caso vamos chamar nota do Banco A, no valor de 1 onça, por cada onça depositada. Assim, se na caixa-forte existem 3000 onças, propriedade dos clientes do banco, as notas emitidas por esta entidade devem corresponder a 3000 notas do Banco A. A receita proveniente desta actividade resulta de uma comissão variável ou fixa pela guarda deste dinheiro. Este tipo de depósito designamos por depósito à ordem.

A segunda função, consiste em identificar a propriedade de cada cliente na caixa-forte do banco.

Vamos supor que o banco pode actuar de duas maneiras com os seus clientes: (i) emitindo notas por contrapartida de um depósito de dinheiro (onças de ouro); ou (ii) emissão de um extracto, indicando um valor, por contrapartida do depósito de dinheiro (onças de ouro).

Vamos então imaginar que das 3000 onças existentes na caixa-forte do banco, 1500 correspondem a notas do Banco A e 1500 constam nos extractos emitidos por esta entidade. No fundo, será o mesmo que o leitor ir-se divertir a uma discoteca e à entrada deixar o seu casaco; em troca, poderá receber uma ficha uniforme de cor vermelha que indica 1 casaco, se entregar dois, duas fichas, ou então receber um papel com a descrição do casaco que entregou.

No primeiro caso, estamos a falar de notas, no segundo caso, de um extracto. Como o leitor deverá imaginar, o bengaleiro deverá sempre ter na sua posse os bens, neste caso os casacos que correspondam às fichas ou extractos (papel com descrição) do que entregou aos clientes, caso contrário, os clientes irão aborrecer-se, para não dizer outra coisa.

No caso das notas, em particular as do nosso Banco A, estas podem servir com meio de pagamento. Imaginemos que o leitor tem na sua posse 20 notas do Banco A e tenciona realizar um pagamento na feira do livro.

Vamos supor que o livro custa 1 onça de ouro. Neste caso, em lugar de ir ao banco converter a sua nota em dinheiro, ou seja, levantar uma onça de ouro e regressar à feira para pagar ao livreiro, simplesmente entrega uma nota ao livreiro.

Atendendo que o Banco A já atingiu uma enorme popularidade junto da população, a sua nota é aceite pelos demais, assumindo que cada uma corresponde efectivamente a uma onça de ouro, não havendo a necessidade de a converter.

Desta forma, para realizar o pagamento, basta que o leitor entregue uma nota ao livreiro; este, quando assim o entender, poderá dirigir-se ao balcão do banco A e convertê-la em ouro.

Outra possibilidade seria a seguinte: vamos imaginar que ambos, o livreiro e o leitor, possuem uma conta no Banco A. Vamos igualmente supor que o livreiro possui um terminal POS e o leitor um cartão de débito associado à sua conta. Neste caso, o leitor ao autorizar o pagamento através deste método, o Banco A altera o extracto das duas contas: no caso do leitor, retira uma onça de ouro (débito da conta), no caso do livreiro, adiciona uma onça (crédito da conta).

Esta função pode ser equiparada ao seguinte: se os casacos dos clientes de uma discoteca fossem todos iguais, o bengaleiro entrega fichas em troca da guarda dos mesmos. Durante a noite, os clientes podiam transaccionar entre eles os casacos; desta forma, o que vendeu não necessita de se dirigir ao bengaleiro e o que comprou, caso deseje, passa pelo bengaleiro a levantar os casacos.

Esta é uma das funções de um banco – saber a todo o momento quem é o proprietário do dinheiro guardado no seu armazém; este conhecimento poderá ser anónimo, no caso do portador da nota, ou personalizado, no caso do extracto do cliente.

Para esta função, o banco cobra uma comissão por processar a transferência de propriedade, no caso do extracto, por exemplo, ao emitente da transferência; ou pode cobrar uma comissão para a conversão das notas em ouro, quando o cliente se dirige ao balcão.

A terceira e última, e talvez a mais importante, é a intermediação de poupança: em que consiste? Vamos imaginar que o leitor tem 120 onças de ouro depositadas no Banco A. Não necessita de 50 onças, podendo conceder um crédito ao banco e, em troca, receber uma remuneração pelo mesmo. Seguidamente, o leitor terá de saber por quanto tempo está disposto a não necessitar esta quantia: vamos imaginar 2 anos.

Ou seja, durante dois anos, não terá à sua disposição esta quantia, não podendo usá-la para consumo.

Por fim, este sacrifício terá um preço. Vamos assumir que o banqueiro está disponível para lhe pagar 4% ao ano por este depósito a prazo. Ao fim do primeiro ano irá receber duas onças (50 × 4%) e ao fim do segundo ano outras duas onças. Assim, após dois anos de sacrifício, o leitor irá ser o proprietário de 54 onças de ouro.

Para pagar ao leitor o que terá de fazer o banco A?

Neste caso, terá de realizar empréstimos a empresários ou particulares com uma taxa de juro superior, caso contrário, não obtém lucro desta actividade.

Vamos imaginar que decide obter uma margem de 4%, desta forma, está disponível para emprestar a 8%. Caso corra tudo bem, o banqueiro irá ganhar 4 onças, tal como o leitor. Recebe de um cliente 4 onças, a quem emprestou a 8%, e paga ao leitor 4 onças, de quem recebeu um depósito a prazo.

É importante ter em conta que este negócio implica um risco para o depósito do leitor, pois o Banco pode emprestar a alguém que não seja capaz de devolver o empréstimo (insolvência, falência…).

Assim, os banqueiros, no sentido de mitigar o risco, emprestam estas 50 onças em fracções, fazendo vários empréstimos ao mesmo tempo: empréstimo 1 de 10 onças, empréstimo 2 de 15 onças…etc. Desta forma, realiza uma das regras que deverá existir para qualquer investidor: a diversificação.

Em que consiste? Em não colocar todos os ovos no mesmo cesto, diluindo o risco por várias empresas ou particulares. No caso de um falhar, não afecta na sua globalidade o risco das operações.

Ao longo da história, os banqueiros conseguiram alargar o seu âmbito de funções, através da prática de reservas fraccionadas, tal como seguidamente se explicará.

No fundo, trata-se de um método fraudulento, visando obter mais receitas, fruto de algumas particularidades associadas ao dinheiro.

Voltando ao exemplo do bengaleiro numa discoteca. Se os clientes de uma discoteca deixam os seus casacos no início da noite, em troca de uma ficha, é quase 100% seguro que os mesmos serão todos recolhidos ao final da noite; ou seja, os clientes voltam a entregar as fichas e a recolher os seus casacos.

Tal não acontece com o dinheiro. Os banqueiros cedo se aperceberam que os clientes não levantam os seus depósitos à ordem, apenas uma pequena percentagem o faz. Vamos imaginar que apenas 10% dos clientes converte o seu extracto ou notas em dinheiro no Banco A.

Vamos também supor que devido ao prestígio atingido junto da comunidade, os clientes do Banco A, na sua grande maioria (90%), não convertem as suas notas ou extractos em dinheiro.

Apercebendo-se de tal fenómeno, o Banco A pode fazer um negócio fantástico: imprimir dinheiro do nada!

Vamos supor que o Banco A tem nos seus cofres 1000 onças de ouro, que correspondem a depósitos à ordem dos seus clientes, 500 em notas emitidas e em circulação e 500 registadas nos extractos. Desta forma, poderá realizar empréstimos a empresários e consumidores por valor de 9000 onças. Como? – pergunta o leitor.

Simplesmente, o Banco A emite notas por contrapartida de um empréstimo. Ou seja, imaginemos o empresário X que chega ao balcão e necessita de um empréstimo de 50 onças de ouro. O Banco A aprova o crédito mediante a entrega ao empresário de 50 notas.

Agora, este empresário pode pagar a fornecedores e colaboradores com estas notas, pois toda a gente as aceita.

Como o Banco A actua em monopólio, estes fornecedores podem ir depositar estas notas no Banco A ou utilizá-las para realizar pagamentos, assim sucessivamente. Ou seja, o Banco A, caso tudo corra bem, pode obter as seguintes receitas:

  • Caso não utilizasse reservas fraccionadas: 5 onças de ouro por ano, correspondente a 1000 × 0,5% (guarda do dinheiro na caixa-forte);
  • Caso utilize reservas fraccionadas: 725 onças de ouro, correspondente ao serviço de custódia (1000 × 0,5%) e dos empréstimos a partir de reservas fraccionadas (9000 × 8%= 720 onças).

Assim, este negócio é absolutamente extraordinário, atendendo que o banqueiro está a emprestar algo que não possui, abusando da confiança que os clientes depositaram na instituição.

Vamos agora imaginar que aparece um Banco B a realizar concorrência ao Banco A. Desta forma, abre as suas portas ao público e começa a captar depósitos, tanto à ordem como a prazo. Ao fim de três meses começa a atrair clientes e já tem 100 onças de ouro em depósitos à ordem e 50 notas do Banco A (cada nota corresponde a 1 onça).

Por que existem 50 notas do Banco A? Porque muitos clientes levam estas notas consigo e, ao abrirem uma conta, em lugar de depositar onças de ouro, simplesmente entregam notas do Banco A, pois toda a gente julga que as mesmas são convertíveis de imediato em ouro.

Vamos supor que, por agora, o Banco B decide não liquidar as notas do Banco A em sua posse, ou seja, entregar as notas em sua posse e exigir a entrega de 50 onças de ouro.

O Banco B continua o ganhar quota de mercado e atinge depósitos valorizados em 1300 onças de ouro, uma parte correspondente a 1100 notas do Banco A e outra a 200 onças de ouro depositados na sua caixa-forte (150 notas do Banco B emitidas e 50 registadas em extractos).

Devido ao elevado número de notas e proporção dos seus depósitos, decide, finalmente, solicitar a conversão das mesmas ao Banco A: já imaginou o que vai acontecer?

Certo, o Banco A não irá conseguir cumprir com esta exigência, atendendo que não possui ouro suficiente para satisfazer esta liquidação. Ou seja, o Banco A corre o risco de insolvência, atendendo que não é capaz de respeitar algo sagrado: a recolha de uma nota por si emitida deverá corresponder à entrega imediata de uma onça de ouro.

Esta situação ocorre se o Banco B decide actuar de forma séria; no entanto, podia actuar da mesma forma que o Banco A, concedendo crédito a partir da emissão de notas sem contrapartida em ouro.

Vamos imaginar que decide embarcar nesta actividade, com os seguintes números: (i) crédito concedido, através da emissão de notas sem contrapartida em ouro, 8000 notas do Banco B; (ii) 1100 notas do Banco A; 200 onças em ouro.

Desta forma, é muito provável que os receptores das 8000 notas emitidas pelo Banco B tenham realizado pagamentos a particulares com uma conta no Banco A. Assim, vamos supor que o banco A recebeu 1050 notas do Banco B. Agora, caso decidam acertar contas entre as duas instituições financeiras, o Banco B simplesmente tem de entregar 50 onças (1100-1050) de Ouro ao Banco A.

Em conclusão, se as duas instituições realizam esta actividade de forma coordenada, a sua situação de insolvência, não têm ouro correspondente ao valor emitido em extractos e notas emitidas, não será descoberta. Num mercado concorrencial e de livre entrada é muito difícil assegurar que esta coordenação seja correctamente aplicada e seguida por todas as instituições bancárias, diria mais, impossível.

Para assegurar esta coordenação, os banqueiros inventaram o banco central. Qual foi a sua função inicial?

Assegurar a coordenação desta actividade fraudulenta, passando esta entidade a ter no seu balanço as reservas de ouro e a emitir as notas de forma centralizada, ou seja, nas notas passa a constar o nome do Banco Central. Mais uma vez, tal invenção só poderia vir de um país protestante: neste caso, a Suécia.

Em 1668, foi fundado o Banco Central Sueco, ainda em actividade. Posteriormente, foi fundado o Banco Central de Inglaterra em 1694, uma instituição que teve uma enorme importância na história dos mercados financeiros. Como bons católicos, acabámos por copiar este modelo, através da fundação do Banco de Portugal em 1846.

Ou seja, quando falamos em capitalismo, uma das premissas é o respeito pela propriedade privada, algo que não acontece com tal modelo.

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